2008/11/22

A casa de espelhos

O caso BPN parece ser uma daquelas casas de espelhos onde as imagens estão sujeitas a múltiplos reflexos que criam ilusões ópticas e perturbam a percepção da realidade. Cada nova revelação, cada nova entrevista fazem surgir fragmentos de uma realidade dispersa, que nos confunde e nos suscita cada vez mais dúvidas.
Ainda um dia (esperemos que um dia destes...) a história do que foi o período cavaquista e pós-cavaquista nos terá de ser contada com grande detalhe. E ainda um dia precisamos de unir os pontos dispersos desta teia política que se foi gerando desde então.
Pelo que se vai percebendo, parece certo que se trata de um dos períodos mais sórdidos da nossa história. A gente tinha essa percepção na altura, mas parece que a coisa ultrapassou e ultrapassa a nossa imaginação. Não me estou a referir apenas aos aspectos políticos mais gritantes, nem aos inacreditáveis percursos pessoais de alguns dos personagens que saíram daquela matriz. Falo também do que se adivinha que seria o conceito de democracia --o mais íntimo e o mais sincero-- de algumas das personagens que ocuparam então cargos de relevância no seio do regime cavaquista e que continuam na cena política.
Esperemos, contudo, que esta história passada nos seja contada por alguém credível. Com ética.

2 comentários:

Rui Mota disse...

Ética? Alguém acredita que existe ética na sociedade portuguesa? Eu não. Quanto mais não seja porque vivi numa sociedade onde a ética não é uma palavra vã. E, neste campo, são todos iguais: o PSD, o PS e o CDS (até ver os únicos partidos que fizeram parte do "arco governamental"). Nada nos prova que os restantes partidos não fossem iguais. Para já têm o benefício da dúvida. Só por isso.
Temos, por isso, um longo caminho a percorrer: nas mentalidades, como é natural, mas também na educação, na tradição democrática e na justiça social. Tanta coisa...nem daqui a uma geração!

Carlos A. Augusto disse...

Mas, eu quando falo em "ética" quero justamente chamar a atenção para a sua falta generalizada e para a imperiosa necessidade de credibilidade.
Aliás acho mesmo que se restasse algum vestígio de boa fé nesta gente que povoa o tal "arco governamental" era para o exílio que voluntariamente se deveriam dirigir...