2009/02/12

Fracturas expostas

É fascinante observar o doutor Almeida Santos a fazer esta performance da moção da eutanásia. O PS não poderia arranjar melhor intérprete para este número. O ar convicto com que se declara adepto da eutanásia é verdadeiramente comovedor.
Confesso que fico fascinado com o desenho, o timing e as razões invocadas para o surgimento desta campanha. Desta e doutras, não negras, mas cheias de cores do arco íris...
Para não lhe faltar nenhum ingrediente até já está garantido pelos orgãos de comunicação social (uns por "inerência de cargo", outros porque lhes dá jeito embarcar no andor...) que esta questão da eutanásia é "fracturante". Reparem que ninguém ainda se pronunciou sobre isto e ninguém sabe sequer muito bem o que isto é, mas já todos nos garantem que é "fracturante".
A coisa é tão descarada e orquestrada de forma tão bacoca que bem podemos dizer, sem hesitar, que estamos perante uma fractura exposta. Esperemos que não gangrene...

11 comentários:

Rui Mota disse...

O Almeida Santos há muito que só diz disparates. No entanto, e neste caso, parece-me que as suas palavras podem ser explicadas pela (má) experiência familiar que sofreu. Estou de acordo com a sua opinião sobre esta questão.
Mais cedo ou mais tarde a eutanásia terá de ser discutida abertamente em Portugal e se ainda o não foi é porque a influência da igreja continua a condicionar a discussão pública. O mesmo relativamente à questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo ou a adopção por casais homosexuais, por exemplo. Pouco a pouco, todos estes tabús irão caindo. Como dizia o Levi-Strauss, só a "propriedade privada" não pode ser discutida. Esse é o último tabú. Por isso é que, em tempo de crise, o discurso dominante fala sobre todas estas questões "fracturantes" e nunca vai ao fundo da questão.
No entanto, uma coisa é não discutirmos a crise e outra e discutirmos os tabús. Trata-se de questões civilizacionais com que somos confrontados diariamente e que não podemos continuar a ignorar. Também para melhorar a qualidade da nossa democracia.

Carlos A. Augusto disse...

Estou inteiramente de acordo que é preciso discutir o assunto, e de acordo sobretudo porque é preciso denunciar a hipocrisia de tudo isto. O tema, como bem dizes, é "pertença" da igreja e para hipocrisias estão lá eles...
O problema aqui é outro. Desconfio que estas discussões acaloradas só servem para mascarar os problemas da governação. Não acredito nada que isto seja inocente e que toda esta catadupa de "questões fracturantes" que de repente é lançada sobre nós não tenha água no bico. Sinceramente, acho até perigoso discutir este tipo de questões na situação em brasa como está agora.
Tanta "fractura" cheira a hospital. Esperemos que não seja porque o regime está cheio de osteoporose...

Anónimo disse...

Já agora, para quando a eutanásia ao Santos Silva? E o Sócrates? Para quando o hara-Kiri ou o Sepuké? Isto é a gente a falar...
O hara-Kiri e o Sepuké também são causas fracturantes. À atenção do Dr. Santos...

Carlos A. Augusto disse...

Fico sem perceber, caro Anónimo (a propósito, "anónimo é da parte do pai, ou é alcunha?) se relativamente ao hara-kiri ou seppuku está a sugerir a sua prática pelo dr. Silva e pelo eng. Sousa... O seppuku estava reservado aos samurais. Aqui aplica-se mais o vulgar suicídio por ingestão de dose excessiva de barbitúricos.
Ou será que está apenas a preconizar a discussão desta prática vernácula e da eutanásia no quadro de um debate ainda mais alargado e totalmente fracturante? A fractura também pode ser letal, sobretudo a partir dos sessenta...

Anónimo disse...

Caro C. Augusto: ambas as três hipóteses que me apresentou são válidas, bem como o seu contrário, isto é, a prática pode começar pelo eng. Sousa e terminar no Dr. Silva (desde que o D. Pereira já tenha fugido a sete pés, outra prática fracturante, a fuga de pereiras).
Todas as fracturas são letais, já as facturas...há as falsas e as em off-shore, que basicamente são as mesmas.
Obrigado ainda pela correcção ortográfica de sepuké.
Samurais somos nós, a aguentar tudo isto de pé, com coragem e galhardia! Quanto aos 60 anos, também uma idade claramente fracturante, ainda estou muito longe de tal fase etária prostática!
Apenas sou anónimo pelo lado do meu padrinho de crisma.
J P Ferro (e, como é hábito neste blogue, um beijão ao Alex)

Carlos A. Augusto disse...

"Quanto aos 60 anos, também uma idade claramente fracturante, ainda estou muito longe de tal fase etária prostática!"
Sorte a sua...

Rui Mota disse...

Numa coisa eu estou de acordo com o anónimo: Samurais somos nós, neste filme sem Kurosawa.

Anónimo disse...

Samurais, samurais aos molhos,
Por causa de ti,
Choram os meus olhos!

(poesia popular de Castelo Branco...)

Anónimo disse...

Correcção á Henriqueta: a poesia é popular, mas não de Castelo Barnco; pertence ao cancioneiro popular da zona das torres gémeas, em Campolide, onde estão os excelentes restaurantes japoneses Aya e Sakura.
Também em Matosinhos, alguma poesia popular do periodo narcisista faz referência ao samurai.
Na zona de Castelo Branco, o que existe é poesia em que o nome "padrinho" "capo" e "Vara" (este transmigado de Chaves)surge com frequência.
J P Ferro

Anónimo disse...

Afinal estávamos todos a falar de culinária! A poesia já lá vai... De facto "Transmigas de Chaves" é um prato forte, mas muito apreciado em todo o país. Vai muito bem com vinho martelado e com fruta da época para rebater... No final um papo de anjinho, um café e um digestivo para conseguir emulsionar tudo isto muito bem!

Rui Mota disse...

Aconselho a leitura do artigo da Clara Viana no "Público" de ontem (14/02) sobre "O mundo pequeno do caso Freeport" que ajuda a perceber melhor os parentescos. Está nas pgs. 8 e 9...