2009/02/21

O conluio

No estilo desassombrado que a caracteriza, a (ainda) deputada europeia Ana Gomes (PS) disse ontem na RTPN o que toda a gente sabe, mas ninguém ousa afirmar: o texto original do relatório da Comissão Europeia sobre os voos da CIA foi alterado devido aos protestos, entre outros, do ministro Luís Amado, por não concordar com as referências a Portugal e ao governo de Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia.
Instada pelo jornalista a explicitar a sua afirmação, a deputada não podia ter sido mais explicita: "Não é só cá que existe o "centrão". Lá, como cá, domina o "bloco central" e existe um conluio entre os maiores partidos do Parlamento. Ao protestar contra a inclusão do nome de Portugal no relatório, o ministro português evitou que Barroso pudesse ser alvo de críticas, agora que este se prepara para um novo mandato em Bruxelas".
Desta forma, ficou toda a gente contente: o governo português, que não é mencionado no relatório; o Partido Popular Europeu que pode voltar a candidatar Barroso e Luís Amado que, provavelmente, será recompensado com um lugar em Estrasburgo (ver a lista de nomes proposta pelo PS às europeias).
Resta saber o que acontecerá à Ana. Mas, ou muito nos enganamos ou, desta vez, fica fora da lista...
Quem a mandou denunciar o "bloco central de interesses"?

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

A voz da Ana Gomes, como outras vozes dissidentes no PS como noutros partidos, trazem para o primeiro plano uma discussão que não deixa de ser bizarra e suscitam uma discussão que eu creio que tem bastante importâcia nos dias que correm.
Estas vozes, manifestadas desta forma, são prova da democracia interna dos partidos ou do interesse dealguns em se mostrarem abertos?
Ainda há poucos dias num exercício de enorme cinismo político Augusto Santos Silva fazia na RTP o elogio de Manuel Alegre e o elogia do seu espírito crítico. Enquanto isso não deixava de dizer que o PS é assim, um partido aberto onde toda a gente tem voz.
Até onde vai a voz destas vozes dissidentes? Se tivessem realmente força para derrubar a voz corrente este tipo de comentário passaria sem um processo disciplinar?
Democracia ou cinismo, portanto?
Por outro lado, se não houver vozes dissidentes, para que servem? Com é o caso da discussão dentro o PC, por exemplo...