2009/02/18

Geografias

Depois do Portugal Westcoast e do Allgarve, temos agora o Portugoal. Se esta moda do trocadilho "anglo-portuguese" pega, vamos ter em breve o mundo a olhar para nós como o país que, no fundo, verdadeiramente somos: a terra dos Sailoios, esses descendentes dos navegadores de tempos idos, actuais habitantes de uma região situada algures entre o Twitter e Curral de Moinas, na estreiteza do Magalhães.

6 comentários:

Rui Mota disse...

Essa do "sailoios" parece-me bem. Depois, até podíamos propor para hino nacional o "sailing" do Rod Stewart, sei lá...

Anónimo disse...

Simplesmente hilariante!

Royal Lisbon Hostel disse...

Para quebrar a consensualidade vou ser do contra: acho que é mais fácil mandar bocas do que olhar para a essência da coisa: tanto o conceito Europe’s West Coast como a campanha Allgarve são iniciativas inteligentes e meritórias. O falar em inglês para fora do casúlo tem um objectivo: é sermos entendidos. Não há muita gente na Europa que fale Português fora de Portugal. Os holandeses andam a fazer isto há décadas e nunca ouvi ninguém chamar-lhes saloios.

Rui Mota disse...

Caro Santiago,

Em tese a sua teoria está certa. Acontece que Portugal tem muitas coisas boas que pode e deve anunciar, eventualmente, em inglês. Só que não faz sentido nenhum fazer uma campanha sobre a "europe's westcoast" com "outdoors" da Mariza ou do Zé Mourinho, na praça do Rossio, quando a campanha se destina ao estrangeiro. Também o conceito "Allgarve" é essencialmente dirigido aos ingleses, que já são a maior comunidade estrangeira no...Algarve!
E, se é verdade que pouca gente fala português, porque não divulgá-lo com bons exemplos da cultura portuguesa, como o Saramago, o Lobo Antunes, ou o Álvaro Siza, por exemplo, em vez do Mourinho, do Ronaldo ou mesmo da Mariza? Só temos fado, futebol e fátima?
O problema destas campanhas não é elas serem em inglês. São os ícones e as imagens escolhidas pagas a peso de ouro a "designers" estrangeiros, como se em Portugal não houvesse fótografos e publicitários que pudessem fazer bem o trabalho.
Qual é a mais-valia em anunciar os "resorts" algarvios, se a programação de verão algarvia é preenchida pelas "stars" estrangeiras?
Eu penso que isto é de um provincianismo bacoco.
Portanto: campanhas em inglês, sim, mas com temas (e dirigidas aos mercados) certos. Não basta arranjar meia-dúzia de "slogans" que soam bem ao ouvido. É preciso dar-lhes conteúdo. A forma - como saberá - é sempre o mais fácil...

Carlos A. Augusto disse...

Este assunto é bem mais vasto do que a capacidade da caixa de comentários de um blog. Por isso ficam aqui uns pensamentos dispersos em resposta ao comentário. O assunto merecia ... um blog próprio!
Enfim, não tenho nada contra o inglês (até arranho umas coisas...), nem contra os falantes do inglês (senão estava tramado com o autor do comentário!)
Sou até totalmente a favor da aprendizagem do inglês como forma de divulgarmos... o português!
O que eu temo, diria mesmo mais, o que tenho a certeza --e tenho uma enorme soma de justificações para isso-- é que esta "sailloiada" serve para não fazermos o nosso trabalho de casa e importarmos o que já está feito.
Não é por acaso que existe um enorme défice na balança de pagamentos...
O percurso que estamos a fazer é o contrário daquilo que deveria, em minha opinião, ser feito. O inglês impôs-se porque há conteúdos que vieram dos países anglófonos que são importantes. E o inglês dava jeito e estava à mão, embora nem seja sequer a língua mais fácil de usar.
Os ingleses, os canadianos ou os americanos não foram pedir aos portugueses ou aos brasileiros para os deixarem impôr a sua cultura. Tinham-na, valorizavam-na, melhoraram-na, engrandeceram-na, ela servia os outros e depois o inglês fez o resto.
Os próprios holandeses referidos no comentário, falando em inglês ou em holandês, promovem os seus valores, a sua economia, as suas empresas, a sua capacidade de organização.
Os portugueses (alguns, que também como em tudo há excepções...!) têm uma atitude servil perante o estrangeiro. Felizmente que os brasileiros venceram esse handicap... Limitamo-nos a alugar por preços ridículos as nossas raízes naturais e a esperar que os outros sejam esmagados por tanta "sailoice". Por isso vale tudo para atrair a atenção do freguês. É preciso que os outros reparem nalguma coisa portuguesa para ela fazer carreira.
A Nelly Furtado em Portugal estaria a fazer "nails"! A Carmen Miranda, aqui, nunca passou de uma matarruana.
O Allgarve, o Westcoast, etc, são parolices de quem não sabe criar nada. Mesmo aquela coisa que me soava promissora quando apareceu do Star Tracker não me parece muito mais do que uma "sailoice" também. Posso estar a ser injusto, mas é o que me parece. Star Tracker? "Talented Portuguese people"?! Enfim... como tenho lá amigos, o melhor é não escrever aqui o que penso de tudo aquilo e dizer-lhes directamente para não os magoar...
O Portugoal, por acaso até é inglês, trabalho de alguém que viu que o nosso futebol até tem uma riqueza qualquer especial que pode atrair os outros povos fãs da bola. Coisa em que nós ainda não conseguimos reparar...
Elucidativo?
Para ser justo, muita coisa mudou e está a mudar em Portugal e a "sailoice", embora forte, já conheceu melhores dias. Mas, há um longo caminho a percorrer.

Carlos A. Augusto disse...

Ainda a propósito deste tema foi publicado pela Unesco o Atlas Universal das Línguas em Perigo (a notícia é de hoje mesmo). São cerca de 2500 que estão ameaçadas em todo o mundo. Curiosamente, os EU é um dos países com maior número de línguas em perigo de extinção (192).
Corrigidas as distâncias e tendo em conta o âmbito espcial da nossa discussão, neste Atlas se refere que "segundo a Unesco, as línguas estão ameaçadas por factores de ordem 'militar', ou seja, quando há a dizimação de um grupo e consequentemente da sua cultura linguística, e 'psicológica', como “a vontade de um grupo de se submeter à língua dominante”.
Mais se refere que, para "além das políticas educativas, a prática oral é o melhor meio de preservar as línguas dessas ameaças."
Mas, diz ainda o artigo do Público de onde estas referências forma colhidas, “o mais importante é voltar a dar às pessoas o orgulho de falarem a sua língua porque a ela está associado todo um universo”.
Qual é o universo do "Allgarve" ou do "Star Tracker"? Paralelo, diria eu...