Ainda alimentei a esperança de que o património criado por Belgais fosse aproveitado de alguma forma, reconvertido ou reutilizado, apesar de tudo. Nunca pensei que os responsáveis regionais e nacionais se dessem ao luxo de deitar, simplesmente, tudo aquilo para o lixo. Infelizmente, assim aconteceu.
Joana Pires revela agora que "após o encerramento da escola do primeiro ciclo da Mata e do Coro Infantil, não deve restar nada do projecto de Belgais iniciado pela minha mãe".
Em 2003 acompanhei na escola da Mata, perto de Belgais, a assinatura de um protocolo entre o ministro de educação de então (cujo nome não ficou para a história) e os responsáveis do Centro de Estudo das Artes de Belgais. O objectivo do protocolo era a criação de uma parceria entre essas duas estruturas com vista à integração, naquela escola, do ensino artístico com o programa do primeiro ciclo. A cerimónia decorreu com a devida pompa e circunstância. Para além do ministro, o cortejo oficial integrava um sem número de figuras que não queriam naquela altura ficar fora daquele retrato.
No final, numa singela cerimónia que decorreu já em Belgais, o Coro Infantil de Belgais presenteou todas aquelas luminárias com uma comovente intervenção musical. A enorme qualidade do coro, o total empenho e alto grau de responsabilidade daquelas crianças, constituia o fecho perfeito para aquela cerimónia: o Coro era a prova viva --para quem soubesse ou quisesse ler tudo aquilo-- de que os ideólogos de Belgais estavam certos. O futuro estava certo.
Joana Pires revela agora que "após o encerramento da escola do primeiro ciclo da Mata e do Coro Infantil, não deve restar nada do projecto de Belgais iniciado pela minha mãe".
Em 2003 acompanhei na escola da Mata, perto de Belgais, a assinatura de um protocolo entre o ministro de educação de então (cujo nome não ficou para a história) e os responsáveis do Centro de Estudo das Artes de Belgais. O objectivo do protocolo era a criação de uma parceria entre essas duas estruturas com vista à integração, naquela escola, do ensino artístico com o programa do primeiro ciclo. A cerimónia decorreu com a devida pompa e circunstância. Para além do ministro, o cortejo oficial integrava um sem número de figuras que não queriam naquela altura ficar fora daquele retrato.
No final, numa singela cerimónia que decorreu já em Belgais, o Coro Infantil de Belgais presenteou todas aquelas luminárias com uma comovente intervenção musical. A enorme qualidade do coro, o total empenho e alto grau de responsabilidade daquelas crianças, constituia o fecho perfeito para aquela cerimónia: o Coro era a prova viva --para quem soubesse ou quisesse ler tudo aquilo-- de que os ideólogos de Belgais estavam certos. O futuro estava certo.
Foram pérolas deitadas a todos aqueles porcos.
Belgais acaba agora, com direito a arresto e tudo.
Fica-me a recordação da intervenção do Coro Infantil de Belgais no "Coimbra Vibra!" (cf. foto), um evento que ajudei a criar no âmbito do que foi Coimbra Capital da Cultura 2003...
Belgais acaba agora, com direito a arresto e tudo.
Fica-me a recordação da intervenção do Coro Infantil de Belgais no "Coimbra Vibra!" (cf. foto), um evento que ajudei a criar no âmbito do que foi Coimbra Capital da Cultura 2003...
9 comentários:
É verdade ,Carlos Augusto, que este país nunca soube aplicar os dinheiros públicos em prol da Cultura. Belgais, seria a Pedrada no charco... Mas os "porcos" de Cultura nada percebem, só gostam mesmo de bolotas... Lembra-se das críticas , nesse campo, do nosso Eça,em "OS MAIAS"?Mas nem é preciso ir tão longe no tempo, se tivermos a possibilidade de ver o estado do nosso património...
Não sabia da sua elevada participação em !"Coimbra,capital europeia da Cultura". Obrigada pelo que fez, pela parte que me cabe. A verdade, meu amigo é que entre nós, as pérolas são para os BPPs eos BPNs...
Beijo amigo de lusibero
Obrigado ME. De facto a maneira como a cultura e os seus agentes é vista em Portugal revela bem este país. Há vários culpados e os agentes culturais directos (não só os "parasitas" ou as "lapas" da cultura) não estão naturalmente isentos de culpa. Afinal somos todos portugueses! Mas há culpados e culpados...
Quanto a CCNC2003, foi o meu calvário... Ou melhor: foi o meu período de pescador e distribuidor de pérolas...
Também penso que, a perder-se Belgais, perdemos todos com esta experiência inovadora de Maria João Pires. No entanto, há diversas versões sobre esta malograda experiência e nem todas são favoráveis à patrona da escola. Nem sempre um bom artista é um bom gestor e é provável que tenha havido má gestão. A MJP queixa-se do Ministério, mas o Ministério tem outra versão. Em quem acreditar?
Já sobre a Cultura em geral, estamos todos de acordo. O António Pinto Ribeiro (da Gulbenkian) escreveu um bom artigo, a esse propósito, no "Público" de há duas semanas. Assim é impossível fazer algo para o futuro. Volta Carrilho, que estás perdoado!
Rui, recuso-me a entrar pela via da "qualidade de gestão" do projecto de Belgais, sempre recusei. Os cavalheiros, cavaleiros deste projecto nunca puseram em causa as capacidades da MJP para ficarem na fotografia com ela...
De que é que se acusa concretamente a MJP? Diz-se, diz que se diz... Mas o quê?! Alguém sabe?!
Quanto à qualidade artística do projecto de Belgais, se quiseres, eu posso-te explicar... E a falta que um projecto daqueles faz ao país também te posso explicar.
Invocar aliás a qualidade de gestão de Belgais hoje, sobretudo hoje, é um exercício irónico. Mas, se o problema é esse mais vale que a MJP vá a uma comissão parlamentar também ser ouvida...
Até se aprendem umas coisas sobre a qualidade dos nossos gestores profissionais, supervisores profissionais e outros senhores, todos profissionais, nessas audições nas comissões parlamentares...
Ainda em relação a esta história dos tiques de vedeta de MJ Pires e da sua pretensa incapacidade de gestão, seria interessante perguntar porque é que nunca ninguém fala da incapacidade do Oliveira Costa ou do João Rendeiro para tocar piano com a mesma veemência...
É que, se calhar, se estes atributos fossem mais harmoniosos, nem havia fraudes como no BPP e no BPN, nem acabava Belgais.
Apesar de tudo notem que no caso das fraudes dos bancos o Estado acaba por ter de se chegar à frente. No caso de Belgais, com o arresto e a "frieza" do presidente da CM de Castelo Branco (agora que lhe dá jeito...), o Estado ainda se vem embora com uns belos Steinways...
A cultura, a pobre da cultura, tão vilipendiada, afinal tem mais "capitais próprios" que os bancos...
Claro que dou o benefício de dúvida à MJP, até porque aquelas crianças dificilmente vão ter a oportunidade de repetir tal experiència. Lembro-me de ter lido há uns anos que na Extremadura espanhola (Salamanca?) tinham proposto à MJP instalar lá o projecto. Ela teria recusado, por entender que fazia mais sentido em Portugal. Talvez fosse altura de recuperar essa ideia. Pelo menos, não se perdia tudo...
Sim, houve de facto uma hipótese qualquer em Espanha e houve, em qualquer caso, tanto quanto sei, colaboração regular informal.
Se a MJP viesse mesmo para Espanha então é que era defenestrada em definitivo...
Quanto à capacidade para tocar piano dos gestores portugueses, caro Pedro C., só se for aquele que se vende no talho...
Belgais, Casa da Cultura das Caldas da Rainha (e muitas outras), e eu sei lá que mais. Enquanto não se entender que na base, origem primária, mesmo, de todas as qualidades, está a arte e a liberdade, andaremos todos a escrever na água (como dizia o Abelaira). O lucro não é fácil, nem imediato, e quanto a isso olhemos à nossa volta. A beleza continua a morrer todos os dias mais um bocadinho. A tal beleza que a tantos é invisível, esquecida em becos escuros, ou claros, que a poucos faz tropeçar. E, quem sou eu?
Nuno Finote
O ministro foi surpreendido pela seca pergunta á saída do restaurante, - Sr ministro e,...a cultura? - !.....- bem,....como verificou acabei de almoçar, as batatas eram de cultura Portuguesa
e de excelente qualidade! -. Vamos ter um ano de boa batata, em nabos não se falou. Sinto-me infinitamente triste.
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