2009/11/03

Womex 2009

Cumprindo a tradição, realizou-se na Dinamarca mais uma WOMEX (WorldMusicExhibition) a maior feira de "músicas do mundo" do planeta. Um conceito de feira rotativa, que teve início na cidade de Berlim em meados dos anos noventa e que, desde então, não tem parado de crescer. Em Copenhaga, cidade que acolheu a 15ª edição da WOMEX, estiveram este ano mais de 3000 delegados, entre produtores, agentes, programadores, discográficas, artistas e conferencistas. Uma verdadeira Babel, onde durante quatro dias é avaliado o "estado da arte" e se encontram velhos amigos.
Entre as novidades deste ano, destaque para as excelentes facilidades oferecidas (recinto da feira e complexo de concertos) onde durante o dia e a noite decorreram as principais actividades: negócios e conferências no Bella Centrum (um complexo de congressos nos arredores da cidade) e "showcases" no Kopenhagen Koncerthuset, a jóia da coroa das salas europeias.
Contrariamente a algumas das feiras anteriores, a música escutada este ano pareceu-nos bastante boa, para o que terá contribuido a magnífica estrutura recentemente inaugurada: um "cubo azul" de cinco pisos, com outros tantos auditórios, onde decorriam todos os "showcases", incluindo os "off-womex", estes uma selecção de grupos não convidados. De todas as salas, o auditório principal (studio 1) é a última palavra do design escandinavo, com mais de 2000 lugares numa concha assimétrica construida em madeira. É difícil encontrar uma sala com melhor visibilidade e acústica por essa Europa fora e tudo o que lá ouvimos e vimos nos pareceu transcendente. O recorte vocal e instrumental é impressionante e qualquer deslize é ampliado ao máximo. Para a qualidade do som (uma pecha na maior parte das edições anteriores) muito contribuiu o professionalismo da equipa do Roskilde Festival, contratada para o efeito.
Entre a boa música escutada destacamos, no primeiro dia, The Great Nordic Band, um ensemble ad-hoc constituido por solistas escandinavos, que abriu a feira com um repertório algo "mainstream", mas tecnicamente impecável, seguido de Les Yeux Noirs, uma banda belga de repertório cigano e balcânico; Ale Moller Band e o seu novo projecto, onde pontuam músicos do Senegal, Grécia, Suécia, México e Canadá e a Orquesta Chekara Flamenco, um projecto de música árabe-andaluz que incluia ainda a excelente bailarina Choni. O segundo dia, iniciou-se com o acordeonista brasileiro Renato Borghetti, um solista de grande dimensão, para além do grupo chinês Hanggai, que faria uma das melhores actuações destes "showcases" e os portugueses Deolinda, que "agarraram" a assistência com a sua música sui-generis e as traduções de uma Ana Bacalhau em grande forma. No "off-womex", realce para o ensemble hindu-canadiano da cantora indiana Kiran Ahluwalia, numa fusão de música oriental e ocidental bem conseguida.
Finalmente, a terceira noite, que acabou por incluir os melhores "showcases": a Orchestra Popolare Italiana, o último projecto do megalómano Ambrosio Sparagna, numa colorida viagem musical pelos principais géneros tradicionais daquele país; as polifonias corsas dos Barbara Fortuna em excelentes harmonias vocais; os ciganos hungaros de Parno Graszt, naquele que foi um dos mais participativos concertos da noite e as vozes celestiais do Eva Quartet, provavelmente a melhor prova de que a perfeição vocal existe e vive na Bulgária.
Nesta Womex, a mais participada de sempre, deve ser destacada a presença de 25 delegados portugueses, entre os quais a associação "chapéu de chuva" MUSICA PT, que agrupa cerca de 20 empresas e artistas do sector.
Para o ano há mais. De novo em Copenhaga, no mesmo local e certamente na mais espectacular sala de concertos da Europa.
Lá voltaremos.

4 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

Obrigado Rui.

lusibero disse...

RUI: se o CARLOS AUGUSTO não se importar, faço minhas as suas palavras. Um post sobre música e WOMEX. com toda esta profundidade, faz-se por gosto, por amor...
BJs de lusibero

Carlos A. Augusto disse...

Não me importo e saudo o retorno dos seus comentarios.

Rui Mota disse...

Pois é, Lusibero. Quem corre por gosto não cansa...