Há muito, confesso, que não ia a uma manifestação. Mas, ontem lá desci a Avenida com todo o gosto, juntamente com o RM e estive ao lado de quem eu mais gosto de estar. Não sei se foram 300 000 se foram apenas 150 000, pouco importa.
Para mim estão claríssimas três coisas na actual conjuntura, como sói dizer-se. Primeiramente, este governo está a mais. Por mais voltas e retórica que tentem despejar por cima da evidência, é claro que este governo já devia ter ido à vida há tempo demais porque não serve para resolver o problema que temos, antes o complica. Por trapalhadas bem menos graves, por incompetência bem menos óbvia já outros governos foram para o caixote de lixo da história. Cada minuto que passa com este primeiro ministro à frente deste governo é um minuto a mais de agravamento de uma pena que os portugueses não merecem.
Em seguida --o corolário afinal deste argumento-- este Presidente da República é a causa de uma série de padecimentos pelos quais os portugueses estão a ser obrigados a passar. O PR tem todas a prerrogativas para agir. Não o fazendo tornou-se parte do problema. Uma minoria, um governo minoritário, um presidente é uma fórmula que, temos de convir, não serve o país e agrava o nosso problema. Nem quero imaginar que a ausência de acção por parte do PR se fique a dever a uma agenda pessoal escondida. Ao menos que esta inacção presidencial se fique a dever à inépcia política que todos lhe reconhecemos.
É para mim também, finalmente, claro que nenhum dos protagonistas explícitos ou implícitos desta jornada --PR, PM e o seu governo, AR, centrais sindicais (a presente e a ausente) e restantes parceiros sociais -- que o futuro do país é neste momento uma questão que não parece suscitar preocupação por aí além. Ora, ou o eixo da acção de todos passa a ser claramente o desenvolvimento e a alteração do actual paradigma social e económico em que o país vive, ou Portugal vai ter de ceder a sua concessão a existir e, tal como o concebemos, vai desaparecer a prazo.
Que se lixe a "crise", que a pague quem a provocou. Do que nós precisamos é de mudar, senhoras e cavalheiros.
Precisamos de mudar...! Comecemos por mudar os governantes.
Comecemos por eleições
7 comentários:
Como dizia a canção, "foi bonita a festa, pá1". O problema é que com "festas" não vamos lá. É por fazermos demasiado festas (nas costas de quem vive à nossa custa) que "isto" está como está.
Sim, é necessário mudar algo, mas não para que tudo fique na mesma. Por diferentes razões, ninguém quer eleições: o PM, o PR, o PSD ou a esquerda. Todos perderão: o PM por que perde o poder; o PR por que quer o poder; o PSD porque ainda não quer o poder; a esquerda porque está a perder poder.
Formas avançadas de luta, podem ter um efeito multiplicador: a paralisação dos camionistas terá, certamente, mais efeito do que a manif. de ontem. Uma greve geral, mais ainda: uma acção concertada dos países do Sul da Europa (Grécia, Espanha, Itália e Portugal) ainda mais. É por aí. Com manifestações também, mas não só...
Inteiramente de acordo Rui, mas é preciso haver eleições. Temos de exigir eleições. Sobretudo porque ninguém dos que estão instalados no poder as quer. Sobretudo porque quem está instalado no poder não sabe, não quer ou não pode mudar o que precisa de ser mudado.
Eleições ou o caos?
Eu já não acredito na democracia parlamentar há décadas, em qualquer parte do mundo... :(
Eu colocaria a coisa ao contrário: caos ou eleições!
Apesar dos problemas que a democracia parlamentar possa ter, neste momento é necessário perguntarmos porque é que os membros da democracia parlamentar (de uma ponta à outra) não querem eleições. É estranho... O povo é a única entidade impedida de se pronunciar? O povo não se pode defender da acusação de ser o culpado da crise?
Creio que a atitude necessária (mesmo e sobretudo para quem não acredita em democracia parlamentar) é... exigir eleições, porque ninguém as quer, mas elas são a solução neste momento!
Ainda que, teoricamente, as eleições fossem uma forma de avaliar o estado da nação, a verdade é que o país saíu de um ciclo eleitoral há muito pouco tempo e, daqui a 7 meses, haverá nova consulta. A haver eleições antecipadas, estas seriam sempre provocadas pelo PR ou por desistência do PS. É uma possibilidade, mas a iniciativa nunca seria por exigência dos votantes. Seria uma decisão vinda de "cima". Outra hipótese é uma nova moção de censura. Também aqui o PSD não parece estar interessado.
Isto vai ter de cair de "podre" e, nessa altura, a necessidade de eleições, será uma exigência da população. Ainda não chegámos lá. Primeiro haverá o campeonato do Mundo de futebol, depois as férias e, lá para Setembro, pode ser que as coisas comecem a aquecer...
"A haver eleições antecipadas, estas seriam sempre provocadas pelo PR ou por desistência do PS (...) Outra hipótese é uma nova moção de censura."
Tudo isto constitui também uma clarificação das posições do PR e dos diferentes partidos que em si são já uma espécie de eleições do avesso... Permitem avaliar a actuação de todos estes agentes pelo que não querem fazer e não pelo que fazem. Por isso o único que até agora estive bem foi o PC.
Isto tem uma leitura para quem quiser ler.
Se estes agentes não agirem e as pessoas quiserem _clarificação_ o tiro político que todos eles pretendem dar em nome da agenda própria sai-lhes pela culatra. Repito: eleições já!
Ainda a propósito deste tema, gostaria de vos chamar a atenção para um artigo do Rui Tavares hoje no Público que, embora de forma indirecta toca isto de que estou aqui a falar. Chama-se apropriadamente "Como a democracia pode acabar com a crise (e vice-versa)".
O que eu quero referir-me no meu post é ao "vice-versa". É que a democracia parlamentar é de facto uma treta, mas pior é o "vice-versa"...
Infelizmente os portugueses conheceram bem essa experiência na primeira pessoa e a mim, não me deixou quaisquer saudades...
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