O governo pretende, ao que parece, acabar com os chumbos no ensino. Confesso que não tenho certezas sobre esta medida, como não tenho certezas sobre a continuação dos exames. Mas, tenho umas quantas certezas sobre outros assuntos. Em primeiro lugar, tenho a certeza que esta medida, como outras deste governo, a ser implementada, correria o risco de, passado algum tempo, ser anulada, voltando tudo à primeira forma. Tem sido o modo de governar deste executivo. Primeiro, mandam o barro à parede, se pegar fica, se não pegar remove-se. Tudo depende do barómetro das sondagens e da "conjuntura" política... É isto o "programa" de governo e é assim que uma série de incautos vai mantendo a crença que o primeiro ministro é um "determinado" e alguém cheio de coragem.
Já a reacção da oposição traz-me à mente os filmes do Borat. As situações criadas por este personagem são tão embaraçosas que nem sequer dão vontade de rir. Deixam-nos incomodados. De entre os argumentos que ouvi para contestar a proposta do fim dos chumbos destaco dois: acabar com eles é um ataque à meritocracia e não contribui para preparar as gerações futuras para o mercado de trabalho competitivo.
Ouve-se e pasma-se!
Esquecem os cavalheiros que cantam estas melodias enganadoras, usando o argumento do mérito, que não basta tê-lo, é preciso que seja reconhecido. Podem os alunos ser sujeitos a todos os exames e testes possíveis e imaginários, podem-se criar todas as escalas possíveis para aferir a sua resposta a estes testes e exames porque no final vai sempre faltar o reconhecimento, na prática, do mérito. De há muitos anos que o mérito está perfeitamente hierarquizado, que sabemos perfeitamente quem o tem e quem o não tem. Desprezamos os primeiros e promovemos os segundos. Até lhes damos lugares de topo no Estado! E sabemos mais! Sabemos que quanto mais mérito tivermos mais nos vão às canelas! Os meritosos acabam emigrantes...
Esquecem-se os cavalheiros que cantam estas melodias enganadoras, usando o argumento da competitividade, que mais do que preparar os mais novos para competir, interessa ao país prepará-los para cooperar. A competir já andamos todos, cada uma para seu lado, a espernear e a tentar sobreviver nesta sociedade onde as palavras solidariedade e cooperação foram de há muito banidas do dicionário, sem acordo ortográfico nem piedade. Seria interessante experimentar a colaboração e a solidariedade entre todos para resolvermos os nossos problemas, porque assim, a competir, está provado que não vamos lá.
Estão, pois, todos chumbados. Pena termos de gramar os repetentes...
1 comentário:
Trata-se, mais uma vez, da famosa "fuga em frente", que nada resolve, mas causa sempre boa impressão aos incautos.
O problema de fundo, que esta gente não percebe e receio bem nunca vai compreender, é que um bom sistema na Escandinávia não significa necessariamente um bom sistema em Portugal.
E isto, porquê: porque o sistema de ensino nos países escandinavos ancora numa tradição democrática e ética (protestante) de séculos. No ínicio do século XX, já as percentagens de alfabetização dos países nórdicos era da ordem dos 90%. Para além disso, o que já não é pouco, as classes das escolas finlandesas, ou suecas, são mais pequenas e têm acompanhamento especializado fora das horas de aula. Onde é que isso existe, em Portugal, quando mais de 40.000 jovens professores não têm sequer acesso à profissão?
Mas, percebe-se, o governo vê-se confrontado com índices de abandono escolar e resultados em disciplinas nucleares, que são os piores da Europa e quer, desta forma, melhorar as estatísticas. Nada melhor do que fazer "passar" os meninos "burros". Mas, se passam todos, para quê estudar? Está bem de ver que a média de bons alunos vai baixar...
Brilhante pedagogia!
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