Os sinais na Europa, em matéria de convivência intercultural, são preocupantes. Basta lembrar as medidas do presidente Sarkozy contra os ciganos.
Uma notícia perturbante que nos vem agora da Alemanha faz adensar esta preocupação: um vice-presidente do Bundesbank, Thilo Sarrazin, publicou na passada segunda feira um livro -- chamado "Deutschland schafft sich ab" ("A Alemanha destrói-se a si própria")-- onde é enunciada uma série de teses racistas. O livro está a causar ume enorme controvérsia e a suscitar pressões para que Sarrazin seja demitido do cargo que ocupa. Mas, tem muitos apoiantes...
Na origem desta controvérsia estão os comentários dirigidos sobretudo aos imigrantes turcos na Alemanha. Uma das muitas teses defendidas por Sarrazin é a de que as comunidades muçulmanos têm prejudicado mais do que têm ajudado a economia alemã, já que preferem viver da segurança social. Segundo este banqueiro, transformado em sociólogo e antropólogo amador, os muçulmanos são dotados de uma "estupidez hereditária" mas, ao mesmo tempo, têm uma taxa de fertilidade maior, o que está a contribuir para baixar o QI colectivo do país.
Podem ler-se aqui, aqui e aqui ecos de alguma da polémica que rodeia a publicação deste livro e aqui podem ler-se ainda alguns comentários proferidos ao longo dos tempos pelo dr. Sarrazin, coligidos pelo Spiegel, bem como a análise da imprensa alemã sobre este assunto.
O que as inúmeras análises e notícias saídas sobre este tema não relevam é que, por um lado, há sondagens que mostram que 1/3 da população está de acordo com as teses do dr. Sarrazin e, por outro lado, que ele é membro do SPD.
Os comentários contra as teses de Sarrazin são muitos. Há também quem o aponte como uma vítima da livre expressão do pensamento. Será, mas a simples leitura do resumo da prosa de Sarrazin (não li o livro) pode levar-nos a pensar que estamos perante um documento daqueles que contêm as teses preparatórias de um qualquer congresso do partido nacional-socialista. Mas, não! É um livro escrito por um social-democrata, hoje, na Alemanha.
6 comentários:
As teses do livro são de há muito populares em países do Norte da Europa. Não só na Alemanha, mas nas vizinhas Holanda, Bélgica ou Dinamarca, para citar alguns exemplos. Reflectem o sentimento nacionalista e xenófobo de largos extractos das populações que, durante décadas, viveram num estado social protector, onde os estrangeiros não competiam no mundo do trabalho. A situação mudou: o estado de protecção social já não consegue responder às necessidades provocadas pelo envelhecimento das populações (questão demográfica) pelo que é necessário importar estrangeiros para compensar este desequilibrio geracional. O aumento destas minorias (nomedamente de origem muçulmana) provoca, naturalmente, choques culturais. Junte-se a esta situação, o terrorismo, associado aos fundamentalistas islâmicos e temos provada a "tese da cabala". Daqui aos livros e dos livros às perseguições aos muçulmanos vai um passo. Resta saber quem irá a seguir...Os portugueses na Alemanha?
Sim, provavelmente segue-se na Alemanha, sim, porque o SPD cá do sítio já há muito que persegue os portugueses em Portugal...
Exactamente.
Ainda sobre a polémica suscitada pelo livro de Thilo Sarrazin, o Rui Mota sugere a leitura aqui de uma entrevista ao politologo alemão Hamed Abdel-Samad sobre o Islão, o terrorismo e a crise que o Mundo islâmico atravessa.
É precisamente por ser um livro escrito por um social-democrata, hoje, na Alemanha que o torna um instrumento tão perigoso.
Nesta data o Srº Sarrazin já foi demitido do alto cargo que ocupava. Censura? Nem por isso, acho, já que num panorama politico que se pretende de distinção entre o fanatismo existente em TODAS as ...religiões, étnias e afins e aqueles que de forma pacífica vivem em sociedade aparecem Sarrazins e pastores no Sul dos USA a procurarem o seu minuto de fama. Em suma, e esta é só a minha modesta opinião: Thilo Sarrazin é a prova concreta de que o fanatismo não se encontra só nas fileiras do Islão. (Angela Inácio Bultmann)
Uma notícia de hoje (2011-04-22 !!) ainda mais perturbante...
http://www.spiegel.de/international/germany/0,1518,758709,00.html
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