2010/09/29

Responsabilidades

Aqui há já algum tempo correu nos cinemas o filme de Michael Haneke "O Laço Branco". Era um filme perturbante sobre as virtudes públicas e os pecados privados, sobre a hipocrisia, sobre a plasticidade da moral aplicada intra ou extramuros.
Hoje tenho-me lembrado bastante deste filme. Ao longo do dia fomos ouvindo altos dignitários da governação e da vida política apelar ao sentido de responsabilidade. Esta foi a palavra mais ouvida em tudo o que foi noticiário e reportagem sobre intervenções políticas a propósito do orçamento e das medidas para remediar o problema do défice das contas portuguesas. Uma palavra repetida febrilmente em todos os tons e declinações.
Estranha palavra e estranho apelo este...
Serão aqueles que espetam o dedo moralista e fazem agora, com ar grave e compungido, este apelo à responsabilidade, os mesmos que, quer do lado do governo, quer do lado da oposição, revelaram ao longo de todos estes anos de exercício do poder um comportamento totalmente irresponsável. Serão estes arautos da responsabilidade os mesmos que não hesitaram em fazer prevalecer os seus interesses mesquinhos e egoístas sobre os interesses de todos, sabendo que o desgoverno a que assistimos hoje seria a inevitável consequência dos seus actos? É para o PEC(n) que os portugueses votam nestes imbecis?
E, pergunto, serão menos irresponsáveis aqueles que os premeiam então com o seu voto?
Quem tem medo da crise política? Quem tem medo de reconhecer que os representantes do regime não estão à altura das necessidades do País e que o País sustenta e avaliza representatntes que o não servem? É mesmo para uma mudança muito profunda de regime que devemos apontar.

3 comentários:

Rui Mota disse...

Responsabilidade é palavra que não existe no diccionário português. Isto é válido para todos: políticos (governantes) e restante populaça (governados). Há mais de 35 anos que andamos a ser governados pelos representantes do bloco central de interesses e não parece que esta situação venha a mudar tão cedo...
Obviamente que toda a gente sabia que o governo andava a mentir e que, mais cedo ou mais tarde, as medidas, ontem anunciadas, eram aplicadas.
Quando Portugal (leia-se governo) não toma as medidas, alguém as toma por nós. Neste caso a UE e o BCE.
Conselho de amigo: é fugir daqui p'ra fora, enquanto é tempo!

Carlos A. Augusto disse...

Se puder veja este filme na TVC2 às 21.30.

Rui Mota disse...

já vi. É excelente. É o "ovo da serpente". Rima e é verdade.