2010/12/02

As presidenciais

Uma ideia que tem sido subtilmente repetida sobre a Presidência da República é a de que se trata de uma instituição com poderes precisos: um presidente não governa, promulga diplomas, corta umas fitas e tem uma vaga capacidade de intervenção. Em suma, serve para pouco. Podemos chamar-lhe a "teoria da rainha de Inglaterra".
Esta teoria tem um número que me parece crescente de seguidores e dá um jeitão aos proponentes da candidatura de Cavaco Silva. O candidato é fraquíssimo e ao apequenar as funções deste orgão de soberania, as capacidades do actual PR parecem, de repente, adequadas, isto é, se é para isto, o dr. Cavaco Silva, chega perfeitamente. Para fazer "nada" Cavaco Silva serve. Na verdade, como ele é "doutor" tem até qualificações de sobra... Podemos chama-lhe a "teoria do p'ra quem é..."
Há quem diga até que para cumprir estas funções, o PR poderia passar a ser eleito por colégio eleitoral e assim se poupavam uns milhares largos de euros em dispendiosos processos eleitorais. 
Desvalorizar o papel do Presidente da República é uma estratégia para tirar importância à importantíssima eleição que aí vem e fazer assim batota política. A desvergonha é tanta que os proponentes da tese da desvalorização não hesitam em queimar o actual PR nesta estratégia (levando o argumento até ao fim, pode-se dizer que o PR não vale nada e portanto Cavaco Silva está bem para a função...).
Por parte de Cavaco, a ambiçãozinha palonça de ser "presidente" fá-lo esquecer que, desta forma, vai sair de todo este processo com o pouco prestígio de que desfruta feito num molho de bróculos. 
Que os sectores mais retrógrados da sociedade portuguesa, partidários da teoria do "p'ra quem é", finjam  contentamento com tudo isto parece normal.
E, contudo, o medo das presidenciais é tanto que já ouvi apelos abertos à abstenção por parte dos defensores de Cavaco, mas pelos vistos fui só eu...
Que os sectores mais progressistas e esclarecidos embarquem, pareçam ignorar esta manobra e cheguem às mesmas conclusões que os reaccionários quanto ao interesse desta eleição, que não encontrem uma qualquer forma de convergência e se preparem para entregar de bandeja o cargo de PR a Cavaco Silva, já é coisa que me deixa profundamente incrédulo e triste. 

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