2011/07/20

Da observação da regra

Esta história das indumentárias veio dar alguma visibilidade à Universidade Católica, embora pelos piores motivos. Fez-me lembrar um episódio que ocorreu há uma data de anos, estava eu para fazer um exame de matemática no colégio onde então andava. Umas dezenas largas de alunos, de fato e gravata, como era exigência na época, amontoavam-se no ginásio feito sala de exames improvisada. O calor era insuportável. Um colega "atreveu-se" a pedir ao presidente do júri que nos fosse concedida a possibilidade de tirar o casaco (a gravata ficava...)
O calor era tal que o dito presidente, coberto, ele próprio, de suor dos pés à cabeça, hesitou por um momento e acabou por discutir o pedido colocado com os restantes professores presentes. Havia esperança, pensávamos nós, já que o assunto merecia, pelo menos, debate interno. Em vão. No final do debate, o tal presidente, escorrendo suor por tudo o que era poro, anunciava-nos que infelizmente não iríamos poder tirar o casaco. Eram as regras. Fato e gravata, ele também tinha feito todos os seus exames assim vestido. Ponto final.
Estávamos afinal (só o vim a perceber muito mais tarde!) perante uma experiência científica de grande significado: pretendia-se provar que o cérebro consegue dar conta do recado, apesar de um bloqueio intencional e significativo do afluxo de sangue necessário ao funcionamento deste órgão e que as regras do Cálculo Diferencial são válidas, mesmo em situação de pré-cremação.
O episódio foi de tal maneira traumático que ainda hoje "sinto" aquela agonia e "suo" só de pensar naquele calor. Lembrei-me disto a propósito da história das indumentárias da Universidade Católica.
A Universidade Católica, certamente preocupada com o miserável lugar que ocupa no ranking mundial dos estabelecimentos de ensino superior —e, sem dúvida no intuito de subir uns pontos— veio agora tornar públicas as normas internas para a indumentária de alunos e colaboradores.
São fait divers, dirão. Se calhar, concordarei eu. É uma universidade privada, dita as regras que lhe apetecer, dirão vocês. É bem verdade, anuirei eu, sem hesitar. Mas, é chocante, ridículo, enganador, ripostarão alguns. 'Tá bem abelha, dirão eles... O contributo da UCP para a crise fica-se pelo hábito.
Há restaurantes e estabelecimentos similares que exigem aos seus clientes uma indumentária "digna" para poderem ser neles admitidos. Se o cliente não vier vestido de acordo com as regras da casa, fornece-se, a troco de um extra, indumentária apropriada. A qualidade do restaurante, logo se vê, mas primeiro há que estar vestido a preceito. Sugiro então aos responsáveis da UCP que criem um serviço semelhante. Uma fonte de receita adicional, certamente não despicienda nestes tempos de crise.

3 comentários:

Rui Mota disse...

Entre a indumentária da UCP e a gravata do ministério da Cristas, que venha o diabo e escolha. A bimbalhada é a mesma: os católicos regressivos que só estão preocupados com a forma. Os conteúdos que se lixem!
Portugal continua um país de bimbos e daqui não saímos.

Iris Restolho disse...

A UCP, como entidade privada, pode pedir e exigir aos seus alunos o que bem entender.

Bimba ou não, a mim sempre me fez muita confusão, que as pessoas não se soubessem vestir para cada ocasião.

Bimba ou não, o certo é que eu sempre odiei que os meus colegas de escola e mais tarde universidade, e à vários anso mercado de trabalho se vestissem, como se fossem para a praia.

Bimba ou não, fui educada para que haja lugar para tudo.

Bimba, ou não, tendo a UCP qualidade ou não, o certo é que mini calções, bermudas e chinelo de dedo, têm lugar com pranchas de surf na mão, a caminho de qualquer praia com onda ou não, mas não têm lugar numa universidade, ou mesmo liceu, ou escola.

É engraçado ver logo um comentário a atacar os católicos regressivos (algo que desconhecia que existia e sou católica e nunca andei na UCP). Os conteúdos são tão importantes como a forma.

Que o Mateus Rosé o diga!

E mais não comento.

Rui Mota disse...

Cara Iris,
Não sou apreciador de Rosé, mas longe de mim a ideia de proíbi-lo.
Já quanto a indumentárias, não vejo porque é que as gravatas, ou os chinelos de dedo, são importantes na produtividade dos ministérios e das universidades. Obviamente que há ocasiões em que o uso de vestuário mais formal se impõe e também não tenho nada contra.
O que é ridículo é estas normas serem agora exigidas, quando há problemas bem mais urgentes para resolver e este governo (não por acaso conservador nos costumes) vir com medidas completamente irrelevantes para o bom desempenho das funções em causa.
Para sua informação, estudei numa universidade holandesa durante anos e os reitores e professores das várias nacionalidades que ministravam os cursos (muitos deles de gabarito internacional) iam para a faculdade de bicicleta, de t-shirt e de sandálias. No entanto, a Universidade de Amsterdão está certamente bem mais classificada do que a UCP no "ranking" internacional. Mesmo nas universidades católicas holandesas (que as há) as normas de vestuário eram as mesmas, ou seja, aos estudantes e ao pessoal docente não eram impostas quaisquer normas de vestuário, muito menos escritas. Que disparate!
Medidas bimbas, sim, de um país que caiu 10 lugares no ìndice de Desenvolvimento do PNUD e está agora em 36º lugar, atrás da Holanda que ocupa o 8º. Está a ver que as gravatas e os chinelos de pé não interessam para nada?