2011/08/24

Os túneis de Tripoli

Agora que o regime líbio parece viver as suas últimas horas, ninguém de bom senso arrisca vaticinar os dias que vão seguir-se. Quem dirige, na realidade, as forças que combatem contra Kadhafi, eufemisticamente apelidadas de "forças rebeldes"? Chefes das muitas tribos e etnias que formam a nação líbia? Movimentos de oposição exilados em capitais ocidentais? Movimentos integristas, federados na "irmandade muçulmana"? O "Al Qaeda", ou o que dele resta? Mercenários do Chade, de sotaque americano, que se deslocam em jeeps de alta cilindrada e usam óculos "ray-ban"? Ou, o povo oprimido pela ditadura que, ainda há poucas semanas atrás, aclamava entusiasticamente o coronel na mesma "Praça Verde" onde hoje destrói os símbolos do regime deposto?
Não sabemos. Ninguém sabe. Do sempre bem informado Nuno Rogeiro (mais conhecido pelo "verdadeiro banda larga"), ao especialista do médio-oriente Robert Fisk, todos os analistas se interrogam sobre as virtudes desta "Revolução Árabe". Sim, porque há mais do que uma versão: a tunisina, que é diferente da egipcia que, por sua vez, é diferente da líbia e esta da síria, que ainda está para durar...
Também não se percebe porque é que o "Ocidente", através da NATO, não interveio na Tunísia e no Egipto e apoiou agora as "forças rebeldes". O argumento, da repressão usada por Kadhafi contra o seu povo, é defensável, mas então, porque não bombardear igualmente Assad (Síria) que já matou milhares de populares indefesos? A que se deve esta diferença de critérios? Talvez o facto da Líbia ter petróleo ajude a explicar algumas destas questões.
E porque é que Israel, a "única" democracia na região, nunca se pronunciou a favor dos movimentos emancipatórios árabes? Será que, lá no fundo, o governo israelita prefere os ditadores, desde que estes reprimam os fundamentalistas islâmicos que ameaçam a sua própria integridade? Tudo é possível, neste Mundo de "realpolitik", onde não interessa tanto se Kadhafi é um "son of a bitch", desde que seja o "nosso" filho da puta.
Uma coisa parece certa: depois da "Primavera", já estamos no "Verão" e nada nos garante que não iremos assistir a um "Outono árabe". As revoluções árabes, vão continuar por muito tempo e muitas destas ditaduras não cairão para já. Ou, talvez caiam, para serem substituidas por outras mais sofisticadas, sempre ao serviço das mesmas elites que vão continuar a explorar os seus povos.
Entretanto, algures no subsolo de Tripoli, o coronel continua à procura de um túnel com luz ao fundo. Uma dúvida me assalta: terá ele levado as garbosas "amazonas" virgens que sempre o defenderam? Nesse caso, estará em boa companhia...

2 comentários:

isabelgalacho disse...

Ai amigo que confusão vqi por este mundo...
O que importa são as boas companhias e a tua é sempre boa.
Um abraço desde esta cidade na chuva!!!!

Rui Mota disse...

Com chuva ou com sol, o clima económico é sempre o mesmo. Essa é que é essa, mas há quem goste de ser enganado...