Depois de ter sido denunciado publicamente que as pensões dos antigos titulares de cargos políticos não iriam ser abrangidas pelas medidas restritivas do OE 2012, o ministro Vítor Gaspar reagiu apressadamente admitindo a rectificação dessa situação. Hoje foi a vez do ministro Miguel Macedo vir anunciar que renuncia ao subsídio de alojamento que lhe foi atribuido para pagar a sua casa de Lisboa (ele diz que vai "abdicar de um direito"), depois desta situação ter sido amplamente denunciada.
Foi preciso criar algum alarido para depois corrigir estes dois casos particulares e, muito provavelmente, se estas denúncias continuarem ainda abatemos mais uns milhões no défice do Estado.
O problema tem, porém, outras ressonâncias, talvez mais graves.
Para ordenhar a teta dos impostos até à última gota o governo não hesitou em criar, ele também, alarido à volta da ideia de que "vivemos acima das nossas possibilidades"! Repetida até à exaustão, a conversa lá vai convencendo os portugueses a aceitar o facto de terem de ficar sem os seus legítimos subsídios, salários, pensões, etc. Há muitos —muitos até, certamente, que nunca gastaram um tostão acima das suas posses— que repetem como papagaios e como se fosse uma prece sua, o slogan que lhes foi subtilmente gravado no inconsciente pela máquina da propaganda.
Fomos todos apanhados nesta rede, cuidadosamente tecida. Mas, infelizmente, não gozamos da mesma protecção que permite ao ministro Macedo vir impunemente, com ar convicto e num passe de mágica, transformar uma situação inquestionavelmente abjecta, protagonizada por um membro de um governo que saca tudo o que tilinta à sua volta, numa atitude eticamente louvável, quiçá, patriótica.
É que falta aos portugueses em geral a chance de escolher entre o deixar-se ou não esbulhar dos seus legítimos proventos e de poder dizer, como faz Macedo, que "por decisão pessoal minha, amanhã mesmo, vou formalizar a renúncia a este direito que a lei me dá."
Episódios como estes sintetizam bem o nojo que é a classe política portuguesa e a qualidade moral dos nossos governantes.
"Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que outros," decretavam os porcos da Animal Farm de Orwell. Temo que o fariseu Coelho acredite nisso e não venha, desta vez, pedir desculpas aos portugueses.
2 comentários:
Assim se constrói a teia do clientelismo: fazem-se leis que promovem as mordomias e, em troca, exige-se fidelidade (canina) aos profissionais do "tacho". Por isso eles ficam lá tantos anos (não sabem fazer mais nada). Para aqueles que passam para o privado, criou-se essa extraordinária lei das subvenções a ex-políticos, que foi ontem denunciada.
Esta gente não se enxerga e há muito tempo que perderam qualquer moral para exigirem mais sacrifícios aos portugueses, tanto mais que se sabe que daqui a dois anos estaremos na mesma ou pior do que actualmente. Um círculo vicioso que só será quebrado com a unidade dos portugueses espoliados, os únicos que têm muito pouco a perder...
Queremos políticos novos!
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