2012/03/11

Cavaco Silva: publicidade enganosa



Os "analistas" dissecaram o tão badalado prefácio de Cavaco Silva, interpretam os seus sinais, exprimiram opiniões e descobriram, pelo caminho, as mais diversas consequências para aquelas 25 páginas que tresandam a maus fígados. O homem é, segundo estes "analistas", ressabiado, mesquinho, mentiroso, cobarde, não tem dimensão para ocupar o lugar que ocupa, apequenou-se com esta acção numa altura em que seria necessário um PR forte, lançou uma iniciativa extemporânea que pode ter efeitos perversos e prejudicar um País fragilizado, etc, por aí fora. As razões parecem ter todas fundamento. De uma modo geral, da direita à esquerda, a acção de Cavaco Silva é condenada com base num convincente conjunto de argumentos que revelam até uma estranhíssima e inusitada concomitância política.
Faltou, no entanto, tanto quanto posso perceber, procurar uma razão plausível para o surgimento deste escrito neste preciso momento. E ela reside num facto a que os "analistas" não deram, nem dão, importância, porque não deram, nem dão, importância à iniciativa que lhe está na origem: é que o "prefácio" surge na semana em que a Petição a pedir a demissão do PR foi apresentada na AR.
O facto de mais de 40 000 cidadãos, daqueles rigorosamente não colunáveis, terem, de uma forma tão naif e espontânea, mas tão categórica, demonstrado que não aprovam a actuação do actual PR e de pedirem, sem papas na língua, rodriguinhos de linguagem, ou malabarismos legalistas, "a sua imediata demissão do cargo de Presidente da República Portuguesa," deve certamente ter criado alguma ansiedade lá para os lados de Belém.
Acontece que o movimento Iniciativa Democrática (criado no Facebook e constituído pelos signatários da Petição) está em plena ascensão, parece ter conquistado aderentes para além daqueles que assinaram a Petição e ameaça tornar-se imparável. Pode causar estragos sérios e profundos na imagem do presidente. Não se sabe até onde tudo isto pode ir. Cavaco defende-se, atacando.
Não concordo com a teoria segundo a qual Cavaco é um simplório, mas probo e imune a influências, personagem político, que ascendeu, em consequência desses seus predicados, ao cargo de PR. Cavaco é tudo menos um simplório. Esta sua imagem foi construída com enorme cuidado e agressividade.
Surtiu efeito. Até agora.
O que um número crescente de cidadãos começa a perceber é que não bate a bota com a perdigota. Os predicados que enfeitam a sua imagem não batem certo com alguns factos, nunca devida e convincentemente explicados, da vida do Presidente da República. Mas, é sobretudo a sua actuação política que se revela um desastre e as incoerências do seu discurso que começam a tornar-se claras para a generalidade dos cidadãos. Cavaco está a revelar-se um exemplo de publicidade enganosa,  incapaz de assegurar o serviço contratado. A pintura começa a esborratar e o edifício habilmente construído apresenta sinais de desmoronamento iminente.
Esqueceram-se dele os "analistas", mas o Movimento criado em torno da Petição ameaça seriamente criar grossa mossa.

3 comentários:

Fusível Ativo disse...

podem tirar um homem de Boliqueime, mas nunca podem tirar Boliqueime de um homem.

Carlos A. Augusto disse...

De acordo com as declarações de hoje de S. Exa., somos nós que não percebemos o que ele escreveu. A entrega do senhor PR aos portugueses é de facto notável! Nunca entedemos o que ele quer dizer, mas ele insiste e nunca se dá por vencido. É um exemplo de persistência e dedicação digno de louvor...

Carlos A. Augusto disse...

"Analistas" analisam e "constitucionalistas" contextualizam. A ler... http://www.ionline.pt/portugal/declaracoes-cavaco-levantam-duvidas-resto-mandato