Na classificação das fobias há uma chamada coulrofobia, ou seja, o medo de palhaços. Nesta história de fobias com conotações circenses, contudo, há uma outra —que não sei se tem ou não designação técnica— que me afecta especialmente: tenho fobia a contorcionistas. Especialmente se se trata de gente sem espinha, uma condição que a torna particularmente vulnerável, em risco iminente de se partir.
O caso das declarações de Zita Seabra não deveria suscitar uma linha sequer, se vivessemos num país a sério, com gente a sério. Infelizmente, tudo isto originou reacções tão inacreditáveis que me levam a ter de dizer também qualquer coisa sobre o assunto.
O que estranho fundamentalmente em tudo isto é que, em primeiro lugar, a criatura em questão, amante da democracia, da verdade e da transparência política, esqueça que não estamos no período do PREC. Estamos em 2012. O PCP já nessa altura fazia papel político de embrulho. Hoje nem papel de embrulho faz. Quem tem uma participação activa e decisiva na destruição da vida dos portugueses, quem contribuiu e continua a contribuir para lhes agravar o seu dia a dia, para fazer do seu quotidiano um martírio sem precedentes e um sofrimento atroz, quem decide medidas que fazem aumentar o desemprego para níveis que apontam para o domínio do crime público, quem produz a contradição insanável de pretender lutar contra o défice aumentando permanentemente o défice, quem desprotege ainda mais os desprotegidos, quem destrói a justiça e o equilíbrio sociais, quem fez recuar o nosso nível de crescimento para valores medievais, quem beneficia os corruptos, quem lambe o rabo dos poderosos, quem assina as leis é o governo do partido de Zita Seabra. O PSD, não o PCP.
Há ainda um outro pormenor, não despiciendo: é da mais alta hierarquia do PSD que provêm todos estes personagens que estão presos, usam pulseiras electrónicas, andam meio a monte ou estão envolvidos em negócios de legalidade duvidosa, nunca totalmente esclarecidos. Não é da hierarquia do PCP.
Zita Seabra parece conviver bem com tudo isso. Nada disto lhe parece fazer comichão.
Colheu Zita Seabra, sabe-se lá com o beneplácito de quem, o favor dos deuses do éter para dizer o que disse, com aqueles ridículos tiques de funcionária clandestina de que não parece nunca conseguir livrar-se. E disse-o sem que ninguém expusesse nenhuma destas contradições, sem que ninguém questionasse a oportunidade destas declarações, sem que ninguém, uma vez obtido todo este efeito, lhe perguntasse se acha então que é o PSD que garante os ideais pelos quais entendeu trair o seu partido de origem.
O que me remete para um apontamento final sobre o PCP, a propósito da nota que, sobre este assunto, tornou pública. O PCP devia ter chamado a atenção dos portugueses justamente para tudo isto. O assunto tornou-se sério e politicamente importante a partir do momento em que a contorcionista Zita foi deixada sem resposta. O espetáculo deprimente desta figura profundamente emética devia mesmo merecer uma análise mais séria, política e solidamente fundamentada, que o PCP não fez e devia ter feito.
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