Está a passar, num cinema de Lisboa, um dos filmes mais assombrosos do ano.
Tem como título “A História do Cinema: uma odisseia” (The Story of Film: an Odissey) e foi ontem estreado em Portugal. Trata-se de um projecto do realizador Mark Cousins e a obra é uma adaptação do livro com o mesmo nome, que este critico, divulgador e programador irlandês, publicou em 2004.
Alertado por um anúncio de um quarto de página no “Público” de ontem, lá fui ao City Alvalade, única sala onde o filme está a ser exibido. Filme, é como quem diz: trata-se de um documentário de 15 episódios de 1 hora, que pode ser visto em sessões diárias de 2 horas, todos os dias até quarta-feira próxima, após o que haverá um debate com diversos realizadores e agentes cinematográficos, sobre o tema.
Esta será a única exibição do filme em Portugal e quem o quiser ver depois terá de comprar a DVD-Box que a Midas Filme irá editar dentro em breve.
Que dizer desta experiência, verdadeiramente avassaladora, de um filme, que não é um filme nem um documentário, no sentido literal do termo, onde a linguagem cinematográfica (porque é disso que se trata) nos é apresentada em sequências que nos obrigam a repensar tudo o que julgávamos saber sobre a arte de contar uma história em imagens?
Partindo de uma sequência cronológica dos períodos mais marcantes da história do cinema - os episódios da primeira sessão abrangem os anos 1895-1920 (“O nascimento do cinema”) e os anos 20 (“O sonho de Hollywood”) - o filme abre com imagens poderosas de “Soldado Ryan”, seguidas da actriz Binoche em “Azul” - pontuadas pela voz articulada e de acento irlandês do realizador. Ele chama-nos a atenção para o que acabámos de ver e quais as linguagens cinematográficas implícitas. O que vemos e o seu significado. Porque se filmam determinadas coisas de uma maneira e outras de outra? Como chegámos aqui? É nessa altura que o filme dá um salto para trás e inicia um “flashback” de 50 minutos, sobre o aparecimento do cinema e os seus pioneiros. Sempre com imagens actuais, alternadas com imagens da época. Passaram 15 minutos e já estamos completamente “agarrados” à narrativa. Quando a sessão terminou, os poucos espectadores presentes perguntavam-se como podiam ver os restantes filmes, uma vez que nem toda a gente tem disponibilidade para ir uma semana seguida ao cinema. Não se pode. Trata-se de uma exibição única e irrepetível. Resta a versão em DVD. Mas, nunca será a mesma coisa...
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