2014/02/26
Paco de Lucía (1947-2014)
Com a morte de Paco de Lucía, desaparece o maior guitarrista flamenco dos últimos cinquenta anos.
Nascido em Algeciras, como Francisco Sánchez Gómez, Paco cedo adoptaria o nome artístico de Lucía, em homenagem à sua mãe (Lucia Gomes) de origem portuguesa.
Começa a tocar aos 5 anos de idade, por influência de Manuel Fernandez, primo de Melchior de Marchena, que o obriga a estudar 12 horas por dia. Os resultados não se farão esperar e, em 1958, com apenas 11 anos de idade, toca pela primeira vez na Radio Algeciras.
No mesmo ano, conhecerá Sabicas, ao tempo uma referência da guitarra flamenca, com quem estabelece amizade e que o influencia a seguir uma carreira profissional. Em 1959, ganha o prémio especial no Festival Internacional de Flamenco de Jerez de La Frontera.
Seguem-se actuações em toda a Espanha, começando a tornar-se conhecido além-fronteiras. Em 1963, com apenas 15 anos, viaja até New York, onde reencontra Sabicas, com quem volta a tocar. Não tardará a gravar o primeiro disco, "La Fabulosa Guitarra de Paco de Lucía", editado em 1967. O seu prestigio é, agora, internacional, tendo sido convidado para o Festival de Jazz de Berlim, onde actua ao lado de grandes nomes do jazz, como Miles Davis e Duke Ellington.
Em finais da década de sessenta, conhece o cantor Camarón de La Isla, com quem inicia uma colaboração regular em palco e estúdio, da qual resultarão 10 albuns seminais. Na opinião do crítico e biógrafo Richard Nidel, "esta parceria é central para compreender a história do Flamenco no último quarto do século XX". Juntamente com o bailarino Antonio Gades, eles são os maiores responsáveis pela renovação do género Flamenco dos anos setenta.
Em 1972, o seu album "El Duende Flamenco de Paco de Lucía", é considerado um marco inovador na linguagem guitarrista do Flamenco. Notam-se aqui influências jazzísticas, que se tornarão uma imagem de marca em trabalhos posteriores. O album seguinte, "De Fuente Y Caudal", inclui um dos seus temas mais populares "Entre Dos Aguas" e torna-se o disco de Flamenco mais vendido em Espanha (65.000 cópias). Em 1975, é o primeiro artista flamenco a pisar o palco do Teatro Real em Madrid, prova de que o género musical tinha sido aceite pelas elites da capital.
Em 1977, grava o album "Castillo de Arena", a sua última colaboração com Camarón de La Isla.
Volta à estrada e inicia um período de digressões pela Europa e pelos EUA, onde toca com Carlos Santana e Di Meola.
Em 1978, grava "Paco de Lucía interpreta Manuel de Falla", em homenagem ao compositor espanhol, onde volta a deslumbrar pela sua apurada técnica.
Em 1979, um novo salto na carreira: forma, com John Mclaughlin e Larry Coryell, o trio de guitarras responsável pelo album "Meeting the Spirits", um êxito a nível mundial. Mais tarde, Coryell seria substituido por Di Meola, tendo o trio gravado novo album, "Friday Night in San Francisco", provavelmente o seu disco mais vendido (mais de 1 milhão de cópias).
Os anos oitenta são marcados pela formação "Paco de Lucía Sextet", onde canta o seu irmão Pepe de Lucía, com quem conhece novos êxitos. O "Sextet" terminaria a sua existência em meados da década, após três albuns editados, mas a arte de Paco continua, agora como intérprete em filmes de Carlos Saura, com quem colabora regularmente nos filmes "Carmen", "Sevilhanas" e "Flamenco".
Em 1992, toca no palco principal da Grande Exposição de Sevilha, onde tem uma actuação memorável. O seu prestígio é, agora, enorme e a sua arte é comparada à de Andrés Segovia, o mestre da guitarra clássica. Dele, a crítica diz que é o maior produto de exportação espanhol.
Em finais da década, retira-se para o México, onde vivia a maior parte do ano e se dedicava à composição. Voltava regularmente à Europa, para fazer concertos esporádicos. Numa dessas ocasiões, passou por Lisboa, para apresentar o seu último disco "Cositas Buenas". Teria sido em 2004 ou 2005. Estivémos lá e nunca esqueceremos. O mestre tocou, como sempre, genialmente.
Afinal, ele era um génio.
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2 comentários:
Uma "perda irreparável" diz-se de alguns seres humanos.
Mais links interessantes:
http://worldmusiccentral.org/2014/02/27/paco-de-lucia-the-fourth-dimension/
http://www.euronews.com/2014/02/26/comment-why-the-death-of-spanish-flamenco-guitarist-paco-de-lucia-has-touched-/
Realmente, um excelente guitarrista. Nunca esquecerei a sua versão da Malaguña de Lecuona.
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