O que se passou ontem, em Alcochete, não tem classificação possível.
Foi, desde logo, um acto bárbaro e terrorista, praticado por um grupo de delinquentes que, em grupo e disfarçados, agrediram atletas de um clube em plena academia de treino.
Trata-se, sem dúvida, de um acto criminoso, perpetrado nas "barbas" da comunicação social, que estava presente e "condescendeu" em abandonar as instalações, sob a ameaça dos "hooligans". Desde logo, matéria para averiguação policial que, entretanto, já prendeu e levou a tribunal mais de uma vintena de implicados que se encontram em prisão preventiva. Resta, agora, aguardar pelas suas declarações e procurar perceber o que esteve por detrás desta acção colectiva, pois o acto em si indicia ter havido uma preparação prévia, o que aponta para uma "organização do terror".
Depois, e esta não é uma matéria de somenos, onde há grupos organizados há líderes, pelo que caberá à polícia esclarecer este ponto, pois podemos estar em presença de algo mais sofisticado do que uma simples claque de futebol. Não seria a primeira vez que uma claque tivesse sido infiltrada por elementos de extrema-direita (vulgo neo-nazis) um fenómeno frequente no Norte europeu e que, em Portugal, não tem tido a dimensão de outros países.
Aqui chegados, e esta é uma tarefa dos associados do clube em causa, devemos questionar-nos sobre o comportamento leviano (a roçar a psicopatia) de um presidente, que se tornou um verdadeiro incendiário das próprias hostes, qual Nero a quem só parece interessar ver "Roma a arder".
A personalidade tem antecedentes e há tratados sobre o perfil psicológico destes demagogos e populistas, que não hesitam em criar o caos para, na confusão gerada, melhor poderem exercer o seu autoritarismo. Pelos vistos, a loucura compensa e os referendos organizados só fortaleceram a legitimação do cargo. Se os sócios apoiam, é porque deve estar certo, é o raciocínio.
Finalmente: independentemente da investigação e (espera-se) pena exemplar aplicada aos prevaricadores e consequente "limpeza" dos orgãos sociais do clube, vítima destes personagens, é de esperar que as autoridades (o estado português) aproveite a ocasião para "limpar" o sujo mundo do futebol e, de uma vez para sempre, termine com esta vergonha, ainda que a tarefa não pareça fácil. Na Inglaterra e na Holanda, que foram confrontados com este fenómeno, foi possível, logo deve ser possível, também, em Portugal. Assim haja vontade e coragem política.
4 comentários:
Tarda resolver o problema que referes no último parágrafo. O Estado há muito que devia ter tido uma intervenção sem contemplações. Excusou-se sempre a fazê-lo, deixando o tempo "arrumar" o assunto ou assobiando, sem vergonha, para o lado. A julgar pelas declarações patéticas de ontem dos dois secretários de estado escalados para dizer qualquer coisinha, temo que tenhamos de esperar sentados...
Como na Holanda e na Inglaterra o crescimento de partidos populistas vai de par com a resolução dos problemas ligados ao hooliganismo, não vejo como este fenómeno possa ser filho do outro, do populismo?
A não ser que as claques de futebol não estejam infiltradas por populistas de tipo neo-nazi de extrema-direita, mas pelos tradicionais elementos da extrema-esquerda marxista, que também não hesitam em criar caos para, na confusão gerada, mais facilmente poderem implementar a ditadura do proletariado.
Mas eu não acredito em nenhuma destas hipóteses - creio que se trata mesmo de puro e duro sportinguismo...
Quando se fala de futebol, fica quase sempre por falar o que, em meu ver, é o mais importante. Clubes de futebol são empresas cotadas em Bolsa, presididas por vezes por indivíduos com interesses pessoais, talvez com simpatia pelo clube e pelo desporto, mas sem grande honestidade ou valores éticos. São organizações que (quase) tudo farão para alcançar lucros astronómicos. Esses lucros têm mesmo de ser atingidos para satisfazer as exigências do mercado: pagar valores obscenos por atletas de alta cotação, aguentar toda uma estrutura com funcionários e futebolistas a receber salários chorudos. O não alcançar esses lucros financeiros, significa baixa de cotação na Bolsa, fuga de patrocinadores, com a venda das "estrelas" valiosas como necessidade derradeira.
Futebol? Sim, também o praticam, mas as competições pouco têm a ver com a noção "desporto" com que eu cresci, são atualmente verdadeiros palcos de tristes cenas de agressividade, em campo, ou fora dele. Com atletas exaustos e lesionados, por terem de jogar simultaneamente duas, três ou quatro competições. Tudo em prol do capital para as contas darem certas...
A época 2016/2017 ficou marcada por notícias sobre corrupção ao mais alto nível, falsificação de competições, discursos agressivos, e o que mais ainda a PJ e os tribunais vierem a apurar. O lodo que veio à tona, mais o que ainda virá, indica ainda que esse tipo de más práticas directivas, já venha de há uns anos a esta parte, coisa que não me surpreende... O que me espanta é ouvir gente com capacidade de discernimento para outras coisas, mas que, de mente turbada pelo amor clubista, vem falar da rama e não da raiz, debater o holiganismo em vez de ponderar se a SAD dos seus clubes não será composta por vigaristas bem pagos que têm de ser corridos e punidos. E não só, é preciso substituí-los por outros que tenham normas bem altas sobre ética desportiva e empresarial. Tanto o bom como o mau exemplo vêm de cima!
Depois disso ser discutido e feito, então vamos falar dos pequenos doidos que batem e matam. Autentico! Matam de vez em quando, enquanto os “adeptos” assobiam para o lado.
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