2019/03/11

Flamenco e Bandoleros em terras de Carmen (1)



Antonio Canales, que tive o privilégio de ver dançar no CCB há meia dúzia de anos, é hoje considerado uma das grandes figuras masculinas do baile flamenco de sempre. Apesar de jovem (57), o seu nome já pertence ao panteão dos imortais "bailaores", ainda que os excessos e uma saúde precária o tenham forçado a abandonar a dança precocemente. Porque as homenagens se fazem em vida ("antes que lhe paguem uma miserável pensão de reforma", como escrevia por estes dias o "Diario de Andalucia") sucedem-se os espectáculos, um pouco por toda a Espanha. Foi assim, mais uma vez, no passado dia 28 de Fevereiro, no Teatro Municipal Enrique de La Quadra, em Utrera, uma das cidades-cadinho do Flamenco, situada a cerca de 30km de Sevilha.
Lá fomos, com a devida antecedência, uma vez que a sala é pequena e estava há muito esgotada. Apesar do inusitado da hora (6 da tarde) para este tipo de espectáculos, a azáfama nos arredores do teatro - um velho edifício do século passado, situado no casco histórico da cidade - era enorme. Famílias inteiras, onde não faltavam os carros de bébés e mulheres em trajes festivos que, em voz alta, como é timbre dos andaluzes, bebiam uma "caña", enquanto esperavam pela abertura das portas do teatro.
Não era caso para menos: do cartaz, entre dezenas de convidados, faziam parte nomes como Manuela Carpio, Eva la Yerbabuena, Família Farruco, Carmen Lozano (no "baile") e Remedios Amaya, Marina Heredia, Montse Cortes e Rafael Utrera (no "cante"). Um programa de luxo, reunido para uma ocasião especial. E esta era, certamente, uma ocasião especial.
Destaque para as intervenções de Carmen Lozano e da família Farruco (mãe e o filho), responsáveis pelos momentos mais altos na disciplina da dança, em especial "Farru", que em nada fica a dever ao patriarca da família, o grande El Farruco (desaparecido em 1997) e ao seu irmão mais velho (Farruquito), celebrados por Carlos Saura no filme "Flamenco". Electrizante, é o mínimo que se pode dizer da arte dos Farrucos, arrebatadora na sua técnica e dramaticidade.
O melhor "cante", ficaria guardado para duas intérpretes clássicas do género, respectivamente Remedios Amaya e Marina Heredia, que cumpriram com o profissionalismo que se lhes conhece. Uma nota ainda para "El Bomba", membro da associação que organizou a homenagem, inexcedível como "cantaor",  "bailaor", "palmero" e tudo que, com uma energia transbordante, não parou durante as três horas e meia que durou o espectáculo.
Resta falar do homenageado. Presente na sala, subiria ao palco, acompanhado da sua mãe, para agradecer a homenagem num longo discurso. A noite não terminaria, sem mais uma "buleria" cantada pela senhora Canales, na qual seria acompanhada por Antonio, em breves passos de dança...
Que mais poderíamos desejar?

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