2008/09/19

Chapeladas

A proposta do PS relativamente ao voto dos emigrantes é, no mínimo, bizarra. O partido maioritário, que agora governa Portugal, pretende alterar uma lei, que funcionou bem durante trinta anos, com o argumento que esta é passível de fraude ou, até mesmo, de "chapeladas"!
Vivi (e votei) no estrangeiro durante trinta anos e sempre votei por correspondência. Não vejo porque é que este meio não há de funcionar. O método era, inclusive, elogiado por outros emigrantes com quem eu contactava (italianos, por exemplo) que tinham de deslocar-se ao seu país sempre que havia eleições.
O boletim de voto chegava, normalmente, um mês antes das eleições e eu só tinha de preênche-lo e reenviá-lo, dentro de outro envelope dos serviços, para a Comissão Eleitoral em Lisboa. Para serem considerados válidos, os votos tinham de ser enviados para Portugal até à véspera do escrutínio. O que acontecia depois, não sei. Até admito que tenha havido as tais "chapeladas" de que fala Vasco Franco...mas, se as houve, foram praticadas em Portugal!
E, das duas uma: ou a Lei actual não serve e não se compreende que, só ao fim de trinta anos, o governo tenha dado por isso; ou a Lei é boa, mas não serve os interesses eleitorais do PS que arrisca perder a maioria actual nas próximas eleições.
Há aqui outra questão importante: os votos dos emigrantes (que são diminutos, mas representam quatro deputados na AR) tornar-se-ão ainda mais residuais, se a Lei for alterada. Não por acaso, foi o actual governo que reduziu drasticamente o número de consulados no estrangeiro. Se já era difícil aos emigrantes deslocarem-se aos consulados para tratarem dos seus assuntos, calcule-se o que será para votarem...Ninguém lá vai!
Se calhar, é isso mesmo que o Partido Socialista deseja. Mas, se é assim, estamos perante uma "chapelada" do actual PS, na qual é secundado pelo inefável PCP que, como sabemos, sempre foi avesso a eleições. E esta, hein!?

2008/09/18

Maria Keil: silenciar o acto é pior que tê-lo cometido!

Não resisto a transcrever aqui ipsis verbis uma mensagem que hoje me enviaram. Não sei quem é o autor (*), mas vale a pena divulgá-la.



Maria Keil


Esta senhora bonita é a nossa compatriota Maria Keil, artista plástica. Em 1941, via-se a si própria desta maneira...

Maria Keil (gosta que a tratem apenas por Maria) nasceu na cidade de Silves, em 1914. Partilhou a maior parte da sua vida com o arquitecto Francisco Keil do Amaral, com quem se casou, muito jovem, em 1933. De lá para cá fez milhares de coisas, sobretudo ilustrações, que se podem encontrar em revistas como a “Seara Nova”, livros para adultos e “toneladas” de livros infantis, os de Matilde Rosa Araújo, por exemplo, são em grande quantidade. Está quase a chegar aos 100 anos de idade de uma vida cheia, que nos primeiros tempos teve alguns “sobressaltos”, umas proibições de quadros aqui, uma prisão pela PIDE, ali... as coisas normais para um certo “tipo de pessoas” no tempo do fascismo.

Para esta “história”, no entanto, o que me interessa são os seus azulejos. São aos milhares, em painéis monumentais, espalhados por variadíssimos locais. Uma das maiores contribuições de Maria Keil para a azulejaria lisboeta, foi exactamente para o Metropolitano de Lisboa. Para fugir ao figurativo, que não era o desejado pelos arquitectos do Metro, a Maria Keil partiu para o apuramento das formas geométricas que conseguiram, pelo uso da cor e génio da artista, quebrar a monotonia cinzenta das galerias de cimento armado das primeiras 19, sim, dezanove estações de Metropolitano. Como o marido estava ligado aos trabalhos de arquitectura das estações e conhecendo a fatal “falta de verba” que se fazia sentir, o Metro lá teve de pagar os azulejos, em grande parte fabricados na famosa fábrica de cerâmica “Viúva Lamego”, mas o trabalho insano da criação e pintura dos painéis... ficou de borla. Exactamente! Maria Keil decidiu oferecer o seu enorme trabalho à cidade de Lisboa e ao seu “jovem” Metropolitano. Estes pormenores das estações do “Intendente” (1966) e “Restauradores” (1959), são bons exemplos.


Parêntesis: Qualquer alteração na “Gare do Oriente” do Arq. Calatrava, ou nas Torres das Amoreiras, do Arq. Tomás Taveira, só a título de exemplo, têm de ser encomendadas ao arquitecto que as fez e mesmo assim, ele pode recusar-se a alterar a sua obra original. Se os donos da obra avançarem para a alteração sem o acordo do autor, podem ter por garantido um belo processo em tribunal, que acabará numa “salgada” indemnização ao autor.

Finalmente, a história! Recentemente a Metro de Lisboa decidiu remodelar, modernizar, ampliar, etc, várias das estações mais antigas e não foram de modas. Avançaram para as paredes e sem dizer água vai, picaram-nas sem se dar ao trabalho de (antes) retirar os painéis de azulejos, ou ao incómodo de dar uma palavra que fosse à autora dos ditos. Mais tarde, depois da obra irremediavelmente destruída, alguém se encarregaria de apresentar umas desculpas esfarrapadas e “compreender” a tristeza da artista.
A parte “realmente boa” desta (já longa) história é que, ao contrário de quase todos os arquitectos, engenheiros, escultores, pintores e quem quer que seja que veja uma sua obra pública alterada ou destruída sem o seu consentimento, Maria Keil não tem direito a qualquer indemnização.
Perguntam vocês “porquê, Samuel?” e eu tão aparvalhado como vós, “Porque na Metro de Lisboa há juristas muito bons, que descobriram não ser obrigatório pedir nada, nem indemnizar a autora, de forma nenhuma... exactamente porque ela não cobrou um tostão que fosse pela sua obra!!!
Este país, por vezes consegue ser “ainda mais extraordinário” do que é o seu costume! Ou não?

(*) Já sei entretanto mais sobre a autoria deste escrito. Veio daqui e o seu autor é o Samuel.

PS - Enquanto falávamos aproveitei para elaborar uma Petição dirigida ao Metropolitano de Lisboa que está em http://www.petitiononline.com/MK2008PT aguardando a vossa eventual assinatura...



O poder na ponta da mangueira

A acreditar no ministro Manuel Pinho, se as petrolíferas não acompanharem a descida internacional do preço do crude e reduzirem os preços de acordo, o governo poderá ter de "intervir" para ajudar a "regular" o mercado. Mercado que, lembre-se, foi liberalizado pelo governo anterior com o apoio do PS e o argumento que essa liberalização iria beneficiar as petrolíferas e o consumidor. Como sabemos hoje, o que se verificou foi o contrário: uma cartelização de preços que continua a favorecer as petrolíferas e o governo que, desta forma, arrecada mais dinheiro em impostos. Quem perde, como sempre aliás, é o consumidor, o elo mais fraco nesta cadeia de interesses.
Interrogado sobre a forma como iria intervir, Pinho, o ministro do discurso desconcertante, refugiou-se numa citação clássica tão ao gosto da esquerda estatizante: "a política comanda sempre a economia". Querem ver que o homem é mesmo socialista?