2006/12/18

O Rivoli

Vamos por partes.
Não conheço Filipe La Féria, não conheço o dr. Rui Rio, não vivo no Porto. A questão do Rivoli interessa-me porque parece haver qualquer coisa de errado em tudo isto...
Filipe La Féria é um encenador profissional e tem ou faz parte de uma empresa chamada Bastidores, um produtora comercial. O dr. Rio é presidente da Câmara Municipal do Porto.
La Féria e a sua produtora procuram público. O dr. Rio gere um organismo público.
O dr. Rio questionava numa entrevista recente se seria legítimo colocar dinheiros públicos ao serviço de produções que não têm espectadores. Não se lhe conhecem quaisquer esforços feitos no sentido de apurar ou perceber porque razão essas produções não têm público. Sente-se (creio que é legítimo interpretar as coisas deste modo) que o dr. Rio entende que são as opções estéticas dos autores dessas produções, que contribuem para a ausência do público. Que estarão portanto erradas, estando assim a ausência do público justificada. O raciocínio é, em síntese, este, e é tão primário quanto isto: ausência de público=falta de qualidade=esbanjamento de dinheiros públicos...
Vai daí, o dr. Rio resolve propôr a atribuição da gestão do Rivoli a La Féria na esperança de que as opções estéticas deste gerem a atracção de público ao Rivoli que tem faltado. Isto depois de um "aturado processo de selecção", como refere o Diário de Notícias de ontem, que distinguiu uma proposta que garante "uma programação apelativa de elevada qualidade e mobilizadora de grandes públicos para a Baixa do Porto."
Não se conhece o conteúdo da proposta de Filipe La Féria para a programação do Rivoli, nem percebo como se pode garantir, à partida, que esse conteúdo vai ter todos aqueles atributos. Mas, uma coisa é certa: o dr. Rio, figura com um percurso artístico reconhecido por todos, diz-nos isso e os Portuenses podem assim ficar perfeitamente descansados. Tudo está previsto! O dr. Rio garante-o. Hordas de espectadores já se devem estar a preparar a esta hora para invadir o Rivoli.
Com garantias destas, dadas de forma tão enfática e exuberante, a produção anterior do Rivoli, se calhar, teria tido o público que lhe faltou. Que grande RP que o Filipe La Féria arranjou! Bingo!!!
O resto da malta que se desenrasque...
E se no final não tivermos as tais hordas de espectadores, a CMP vai certamente, para não perder a face, encontrar os meios para as mobilizar.

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