2007/06/27

Anuários

Foram dados a conhecer recentemente dois anuários que analisam duas importantes instituições portuguesas: o futebol profissional e as câmaras municipais.
O Anuário das Finanças do Futebol Profissional 2005-2006, de autoria da Deloitte, diz preto no branco que o futebol é um actividade deficitária, em crescente queda, com um nível de endividamento excessivo, falta de capitais próprios e uma diminuição de receitas. Estas são as conclusões a que a Deloitte chega relativamente ao futebol. Endividamento excessivo, défice subavaliado, incapacidade de cumprimento das obrigações perante os fornecedores e dependência excessiva do estado central são algumas das conclusões a que chega o último Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, referente a 2005.
E, no entanto, o futebol é uma actividade com um invulgar peso económico relativo, quando é tida em conta a população e o PIB. No caso das câmaras municipais sabemos que a dívida não ultrapassa 25% do activo. O que quer dizer que as câmaras são viáveis. Em Lisboa, por exemplo, temos ouvido com frequência este mesmo argumento para justificar a possibilidade de governar a CML apesar do défice absolutamente obsceno.
O futebol é viável mas é deficitário, as câmaras são viáveis, mas deficitárias são. Ambas as instituição são altamente deficitárias e muitas estão falidas.
Já há muito que diversas figuras vêm chamando a atenção para as ligações perigosas entre o futebol e as autarquias. Ora aqui está matéria adicional que parece dar ainda mais força a esta opinião. Tanto as autarquias como o futebol são universos fechados, expostos directamente ao escrutínio dos seus "súbditos", sem grandes mediações, nem controlo externo significativo. Ambas são pasto fácil para o mais desbragado populismo e oportunismo. E ambas são encaradas como ferramenta para os maiores desmandos, onde vale literalmente tudo. Aí poderá residir mesmo a essência da perigosidade desta ligação entre as autarquias e o futebol. Só falta conhecer o anuário da indústria de construção civil...
Défice e falência são as palavras dominantes dos anuários referidos. Mas, nada disto deixará, estou certo, envergonhados os responsáveis pelos clubes ou pelas autarquias (alguns até acumulam...) que deixaram chegar a situação das instituições que dirigiram ou dirigem a este estado. E também não parece deixar-nos, a nós todos, à generalidade dos cidadãos, envergonhados. Os deuses do futebol continuam a ser venerados e os sacerdotes do santo município continuam a receber o dízimo.
Ou é o contrário?

4 comentários:

Rui Mota disse...

Esqueceste o terceiro vértice do triângulo: a construção civil. Com o seu apoio, os partidos políticos ganham eleições e depois têm de retribuir com os licenciamentos a granel, como acontece em Lisboa, por exemplo. É um segredo público, passa-se mais em países terceiro-mundistas e Francesco Rosi chegou a realizar um filme sobre o assunto, "Mani sur la citá", onde mostra até onde chega o controlo mafioso da cidade de Nápoles.

Carlos A. Augusto disse...

Não esqueci não! Até disse que "Só falta conhecer o anuário da indústria de construção civil..."
É o triângulo das barbudas!!!!

Rui Mota disse...

Tens razão. Resta saber se a Construção Civil publica anuários...

Carlos A. Augusto disse...

Nestes casos seria mais matéria para o Anedotário...