Titula o Expresso desta semana, com chamada à primeira página: «Túnel do Marquês dá razão a Santana Lopes».
Baseia-se a matéria em que «os que entram e saem da capital têm a vida facilitada». E juntam-se as opiniões de dois automobilistas que moram nos arredores (Estoril e Linda-a-Velha) e que dizem poupar imenso tempo em relação ao que gastavam antes de haver o túnel e o depoimento de um residente na Av. Joaquim António de Aguiar que diz que o túnel melhorou a qualidade de vida dele. A ver se o Expresso foi entrevistar quem vinha (e continua a vir) de transportes públicos para a capital. Ou se perguntou alguma coisa a quem vive na Fontes Pereira de Melo.
Bom, mas há ainda o argumento, que para alguns parecerá definitivo, do motorista de táxi que diz que dantes se recusava a levar clientes Rua Castilho acima e que agora vai sem problema, o que o fez mudar de opinião acerca do túnel: era contra e agora é a favor. Se um profissional fala assim... De facto, ele também terá a sua sensibilidade empírica ao aumento de tráfego causado pelo débito de mais cerca de 15.000 veículos por dia dentro de Lisboa. O problema é que o taxista faz o seu cálculo de benefícios/custos só com estes dois parâmetros. E não tem em conta minudências como as dificuldades adicionais que esses milhares de veículos a mais acarretam ao estacionamento em geral, também à circulação dos transportes colectivos, para não falar no acréscimo de poluição.
O que os articulistas parecem não ter percebido é que o que eles louvam é que é o problema: ao empreender o túnel, o que Santana fez foi tomar a decisão política de privilegiar a parcela de utilizadores que entra na cidade de popó.
Mas o que interessa saber de uma decisão de um presidente da Câmara é se esta foi a melhor do ponto de vista da cidade e dos seus utilizadores (os que cá trabalham e por isso passam grande parte do dia na cidade, mas, por maioria de razão, os que cá moram), e não apenas para uma parte deles. Não sei se algum oponente do túnel terá alguma vez duvidado de que este iria facilitar a vida a quem entra e sai da cidade em transporte individual. Eu cá sempre soube que isso iria acontecer; estava na cara. Para mim, Santana e o seu túnel sempre significaram um acréscimo do número de automóveis a circular na cidade. E sempre achei que seria preferível uma despesa equivalente com a melhoria dos transportes colectivos e o seu trânsito na cidade.
Mas, voltando ao artigo, cabe a pergunta: será que o Expresso pôs um título daqueles porque os jornalistas não perceberam que a razão de Santana se limita a um sector dos utentes de Lisboa, a maior parte dos quais nem sequer cá vive? A parte seguinte do artigo é esclarecedora: «Mais complexa é a realidade dentro da Lisboa. O túnel atrai trânsito e vias próximas do Marquês de Pombal têm trânsito como nunca tiveram». Vem-se depois a reconhecer que os cerca de 15.000 veículos que entram a mais todos os dias na cidade vieram complicar o trânsito no troço superior da Av. da Liberdade, no sentido descendente da Fontes Pereira de Melo e no Conde de Redondo.
O título do artigo é, pois, desmentido pelo conteúdo. O Expresso sabe muito bem que o problema de trânsito se agravou com o túnel, e escreve-o.
Dá para desconfiar das motivações de quem escreve um título que é uma descarada mentira.
1 comentário:
A opinião recolhida sobre o túnel é baseada na experiência de quem lá passa. Não é, pois, de admirar que os taxistas (esses barómetros da vida citadina) considerem o túnel positivo. Eu passo lá (de táxi) todas as semanas e oiço sempre a mesma opinião: que o túnel é benéfico. Há também um sentimento de "alívio" nesta opinião (finalmente o túnel está a funcionar!). Fica-se sem saber se com dois desnivelamentos apenas (Rua de Artilharia e Rua Castilho) não teriam obtido o mesmo efeito...Por outro lado, o túnel que foi aberto, não é o mesmo túnel do Santana. Este é melhor, devido às recomendações do tribunal. E ainda falta abrir o lado da Avenida António Augusto Aguiar, um embróglio por resolver. Pano para mangas, pois...
Mas o "Expresso" é o que é e o jornalismo em Portugal já foi...
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