2007/08/01

Sinais

Bem podem os "arautos da democracia" e das "liberdades adquiridas" apregoar a isenção do governo, relativamente ao direito de opinião e às perseguições políticas do PS. Hoje mesmo, a directora do Museu de Arte Antiga, Dalila Rodrigues, foi demitida por críticas à gestão orçamental dos museus portugueses. Se isto não é intolerância, o que será?

15 comentários:

Rini Luyks disse...

Depois dos teatros (D. Maria II, Rivoli) agora os museus.
"Purga estalinista", disse a D. Teresa Caeiro. Mas não nos esqueçamos também da "polivalência" desta Senhora: há três anos ela foi na última hora transferida da Secretaria de Estado da Defesa para Artes e Espectáculos, também tem tudo a ver, não é!?
Que cena! Teatro de guerra, guerra de teatros e museus, este país é um espectáculo!

Anónimo disse...

A D. Teresa não tem, de facto, muita moral para fazer determinadas acusações. O pior é que as "purgas" existem e já não são apanágio da "direita". Também a "esquerda" mantém os tiques autoritários e intolerantes das ditaduras. No fundo, os poderes não desejam a competência, mas a fidelidade: canina, de preferência!

Carlos A. Augusto disse...

nfelizmente, parece-me que este "caso" é mais um em que nada se aproveita. Se a "purga" parece condenável, os contestatários e a "purgada" parecem-me também não ter nível nenhum. É mais um daqueles "casos" que só o são porque foram empolados e porque não há mais nada para meter nos telejornais nesta altura. O que não deixa de ser triste porque, se há purga, ela deveria ser condenada e exposta. Mais uma vez estamos perante um novo caso em que os maus se escapam e os bons afinal são uns patetas e não estão ao nível dos acontecimentos.
Mas uma coisa é certa: isto é a mesma coisa que se passou no caso do Charrua. Os "valentões" esticam a corda e depois quando do outro lado fazem a mesma coisa lá vem o discurso do "estalinismo" da boca dos mesmíssimos gajos que usaram as mesmas práticas noutras circunstâncias.
Como na anedota digo: já chega...!

Anónimo disse...

Não acho que possamos comparar este caso ao do Charrua. Penso, de resto, que o caso Charrua é muito mais grave, pois independentemente do que o homem teria (ou não) dito, a coordenadora da DREN agiu no seguimento de uma denúncia de um "bufo". O tal clima de medo de que falava o Manuel Alegre. E isso, para mim, é intolerável. No caso da Dalila Rodrigues, o exemplo comparável será o do Pinamonti (S. Carlos). Lamenta-se aqui, a saída de uma técnica capaz, que ousou "pôr a boca no trombone". Nenhum poder (muito menos o poder absoluto desta maioria) tolera tal atrevimento. E é aqui que, quanto a mim, reside a questão: deve ou não o poder (neste caso do PS) responder a uma crítica pertinente, com a exoneração? Para mais, sabendo nós da mediocridade que grassa no MC e nos teatros/museus nacionais?
Só um poder bacoco e provinciano, como aquele que gere o MC, dá uma ala inteira do CCB a um "marchant" de arte e ainda por cima paga 5 milhões de euros por uma colecção da qual nunca será proprietário. Que grandes saloios!
Por aqui se pode ver, o nível destes governantes educados, aliás, na ex-URSS, da qual herdaram os melhores tiques da "cultura ao serviço do povo".
Este é que é o drama. Porque, tanto o Pinamonti como a Dalila, serão sempre reconhecidos pelos seus pares e não hão de faltar-lhes oportunidades para provarem o que valem. Já o mesmo não se pode dizer dos substitutos. Cada vez que o MC substitui técnicos competentes por "aparatchiks", o nível da oferta cai. Ou, há dúvidas?

Carlos A. Augusto disse...

São questões diferentes as que referes Rui.
Ninguém coloca em dúvida as competências destas pessoas (eu não as conheço e não digo se são ou não são competentes; vamos pensar que sim).
Eu não posso criticar o governo por exercer autoridade. Foram lá postos para isso. Foram lá postos para exercer as suas competências. Em ambos os casos há um desafio canhestro e até oportunista à autoridade. Não é de admirar que a autoridade reaja.
Eu comparo isto ao caso Charrua porque há de facto, neste sentido, paralelos.
A definição de políticas é uma cpmpetência do governo não da directora do MNAA. Não creio que caiba a uma directora de um museu em exercício vir criticar uma determinada linha de orientação. Não está em causa se a política do MC é boa ou má. Eu também a acho uma lástima. Mas não sou director de coisa nenhuma...
Nós teremos oportunidade em 2009 (se não for antes...) de premiar ou chumbar as linhas orientadoras do governo.
O que eu creio que está em causa aqui é uma funcionária em exercício, por muito competente que se julgue ser, criticar quem foi incumbido de definir a sua actuação.
Eu se fosse Dalila, não me armava em Sansão... Demitia-me primeiro e depois criticava com a autoridade de quem se demitiu para poder criticar.
Formalmente, alguém tem de ter autoridade para sancionar ou condenar a violação das regras. O governo foi eleito, a directora não. Porque se não for assim cabe perguntar: quem executa a lei?
Estamos a falar de _política_!!
Quanto ao Charrua, a questão é exactamente da mesma natureza. Este senhor é funcionário público. Se o senhor Charrua se achou no direito de desafiar a cadeia de comando, tem de aceitar que o comando reaja... A questão dos bufos não interessa: ou há ou não há regras que forma quebradas. Este arriscou, levou!
Eu acho que o senhor Charrua, se quer falar _a sério_ sobre a questão da licenciatura do primeiro-ministro (a pessoa que coordena politicamente a Nação), se quer clarificar uma questão que debe ser encarada de forma séria e é bastante grave (para mim não está esclarecida...) o senhor Charrua, repito, tem a opção de voltar ao teatro político, i.e. ao Parlamento, e aí exercer de forma séria as suas prerrogativas.
Toda a gritaria que se faz na televisão acerca destes factos cheira a feira de vaidades e não revela nenhuma qualidade especialmente louvável dos seus autores. Se a Dalila se tivesse demitido por não concordar com a política seguida e depois tivesse ido exercer o seu direito de crítica isso seria certamente visto como um acto de cidadania e de coragem. Da forma como ela se comportou só posso ler isto como vontade de ter palco...
Nada disto é sério.
Depois a questão do medo... Então agora temos medo??!!!! Então andámos a f... as nossas vidas todas durante tantos anos, defrontando assassinos a sério para agora ter medo??!!! Esta merda mete medo???!!!!!!!!!!
O PS mete medo??!! A quem?? Só se for ao PS...
Eu não tenho de ninguém, nem nunca terei medo de ninguém e estarei sempre na primeira linha para combater qualquer tentativa de instauração de um clima de medo.
Não creio, francamente, que seja esse clima que estamos a viver...
Agora que a propaganda se aproveita desses disparates para vender mais papel ou tempo de antena, sem que se vislumbre nem por um segundo que queira mudar o estado actual das coisas, ah! lá isso é mais certo que 2+2=4!
O Charrua não vale um caracol e a Dalila não vale um caracol do Sansão... Nada disto merece este esterco todo. E no entanto tudo isto continua a ser motivo de conversa.Os problemas do país seguem dentro de momentos...

Anónimo disse...

Eu também não tenho medo do PS, mas conheço quem tenha. Além disso, trata-se da "fidelidade" que os governantes portugueses exigem aos seus funcionários. O "respeitinho" português é este: exige-se respeito (as ordens não se discutem), mas não se exigem competências. Ora, se é verdade que os funcionários foram nomeados, também é verdade que eles têm opinião. Não reconhecer esse direito, é praticar uma espécie de "centralismo democrático", mais próprio de partidos sem democracia interna. Só os complexados - como a ministra da cultura actual - reagem de forma punitiva a críticas justas de quem, melhor do que ela, sabe do que necessitam a ópera ou os museus em Portugal. Continuo a pensar que o MC ficou bem pior na fotografia do que os punidos. Como dizia o outro: a história, dar-me-á razão.

Carlos A. Augusto disse...

Mas, ó Rui nada fica resolvido com estas guerrinhas de alecrim e mangerona que estes gajos inventaram, não é? Os portugueses continuam à margem destas querelas e elas não têm importância nenhuma. Isto parece a versão política da Caras ou da Lux... Quem quer falar sobre os verdadeiros problemas do país?
O que agora se designa medo deverá chamar-se antes comodismo. Ninguém quer é assumir as consequências dos seus actos e querem todos continuar a ter os privilégios de que são detentores. Tudo se resume a isso...
Nenhum problema dos que verdadeiramente nos afligem foi ainda resolvido com estas "tricas". Eu (isto é claro uma opinião pessoal) só consigo vislumbrar uma feira de vaidades nestas coisas.

Anónimo disse...

Acredito que haja problemas bem mais importantes do que esta feira de vaidades. Mas também sei, por experiência própria, que pode haver outro tipo de relações entre dirigentes e dirigidos. Vivi metade da minha vida num país com uma cultura democrática diferente (eu diria, para melhor). Portanto, posso comparar. Também podia contar-te uma história que se passou comigo na função pública portuguesa. Ficavas de cabelos em pé...

Carlos A. Augusto disse...

Eu (penso que) conheço a história, claro. Mas, pelo que me estás a dizer o problema somos todos nós e esta mentalidade triste dos portugueses... Não são os governantes.
Só quando deixarmos de olhar para o comportamento dos governantes, políticos e outros "colunáveis" e pautarmos as nossas acções pela nossa própria ética é que este problema se resolve.
Na democracia onde viveste ninguém precisa de figuras de referência. Ou melhor: se precisa delas não as vai encontrar na "Caras"...

Anónimo disse...

Rui Mota, desta vez a história é outra: nada disto tem a ver com o facto da dita senhora "ter posto a boca no trombone", como sugeres. O que me parece importante discutir e, sobretudo, não ignorar, é a sua presença nas jornadas parlamentares do PP, há uns dias atrás, e aquilo que lá foi dizer da tal autonomia que tanto reclama - um tal Berlusconi também dafendeu, com o mesmo empenho, autonomia financeira para os museus italianos e o resultado é sabido: 3 meses depois, a Galeria Uffizi de Florença, por exemplo, estava à beira de fechar, sem cheta para funcionar minimamente (berlusconi sugeriu que o museu vendesse algumas obras para subsistir...). É muito perigoso defender a autonomia de uma instituição com as caracterr´siticas do MNAA, mais a mais sabendo que o mesmo não gera (nem tem que gerar!!) receitas só para suportar as despesas de funcionamento. Aliás, não é de estranhar a ida desta senhora às tais jornadas parlamentares e a sua consonância com um tal Gomes de Pinho. Serão Paulo Portas, Teresa Caeiro, Telmo Correia ou Nuno Melo referências nesta (ou noutra qualquer) área? Diz-me com quem andas, digo-te quem és, lá diz o ditado. Fora com este arrivismo de direitita (o PP) pseudo urbano,tipo pós moderno, bica do sapato frágil lux e etc.!
J. Batista

Anónimo disse...

Não sei se a história desta vez é outra. Quero, até, acreditar que sim. Nada me move a favor ou contra a D. Dalila que, de resto, não conheço de lado nenhum. O que eu constato, é a posporrência e intolerância do estado português e as relações patronais com os seus subordinados. Dito de outra maneira: há falta de cultura democrática em Portugal e isso é que é grave. Se a Dalila Rodrigues é "arrivista" ou não, não me interessa nada. O que interessa, neste caso e noutros, é alguém poder ser despedido, por ousar ter uma opinião contrária. Mas, concedo: eu vivi metade da minha vida num país de tradições democráticas, o que já não se pode dizer da maioria dos portugueses. Daí, ser mais exigente.

Carlos A. Augusto disse...

Em tese os teus argumentos estão correctos Rui. Nada a opôr.
Na prática, o que se passa é que nenhum destes personagens inspira qualquer confiança relativamente aos princípios que invocas. Não estamos a falar de nenhuns campeões da democracia, nem num caso, nem no outro.
Ou seja: o que eu creio que estamos aqui a referir são as faces da mesma moeda. A gente queria era outra moeda, não a outra face.
Por isso no início desta interessante discussão invoquei o caso Charrua. Estão todos bem uns para os outros.

Anónimo disse...

"Cada vez mais, a lealdade institucional é sinónimo de sabujice. Contrato de trabalho é sinónimo de aceitação incondicional das ordens do chefe. Prémios e promoções são para quem desligar os neurónios críticos (...) o pior é que os exemplos são contagiosos - e esse contágio prolonga-se no tempo. A lição fornecida aos jovens estudantes através desta demissão é brutal: se quiserdes um lugar ao sol neste Portugal dos pequeninos, preocupai-vos sobretudo em não fazer ondas, que o altivo mar dos Descobridores é agora um lago de lambe-botas. Dedicação, criatividade, eficiência, estudo e empenhamento são demónios de perdição dos quais deveis fugir enquanto podeis - acirram invejas e despertam a vontade de poder que dorme no coração dos que não dispõem de mais nada. Zarpai, jovens, zarpai, enquanto é tempo para os países que amam esses talentos". (Inés Pedrosa: "Lição de subserviência" in "Expresso", 11.08.07)

Carlos A. Augusto disse...

Esses aspectos são preocupantes, não duvido.
Mas, não é isso que está aqui em causa.
O que está aqui em causa é diferente, pelo que percebi dos contornos deste (mais este!) caso.
Não estamos aqui a falar de "povo", nem "jovens", nem nenhuma outra categoria socilógica generalizada e em abstracto. Estamos a falar de pessoas e de tricas entre gente "colunável", que procura mostrar-se. É uma guerra a esse nível e nada mais.
Não vejo aqui nada de "nobre", nem de um lado, nem do outro, como o excerto do artigo que reproduzes poderia sugerir.

Anónimo disse...

"A sensação que fica é que Dalila Rodrigues não foi demitida por manifestar discordâncias públicas com a tutela sobre o modo como se deve gerir um museu, mas sim porque a gestão que fez mostra que os museus se podem gerir de modo diferente. Ou seja, substituiu uma ficção cristalizada por uma realidade dinâmica e apesar de tudo mais auspiciosa , confrontando, tanto pela acção como pelas palavras, a política de gestão cultural.
É claro que o Governo tinha de tirar conclusões desta situação. Infelizmente, tirou as piores. Não percebeu que governar, neste caso, deve significar, ao mesmo tempo, emitir os sinais certos e avaliar o peso da realidade nas suas decisões. (...) Os abaixo-assinados e a onda de indignação que rodeia este caso terão certamente um impacto muito para além das "questões comezinhas" da cultura, sobretudo num momento em que a imagem de autismo se vai colando ao Executivo como uma segunda pele". (Celso Martins: in "Actual", 11.08.07)