A "discussão" sobre o Orçamento de Estado que, por estes dias, vai decorrendo no Parlamento é bem um exemplo da estagnação ideológica instalada na sociedade portuguesa.
O que devia constituir um momento de excepção para avaliar da estratégia económica e financeira do governo para o próximo ano, transformou-se num espectáculo mediático antecipado em grandes parangonas pelos mais respeitáveis orgãos de comunicação social do país. Mais do que procurar interpretar as medidas governamentais que irão influenciar a vida dos portugueses, os nossos colunistas de opinião (há excepções) concentraram a sua atenção num imaginário duelo entre o chefe do governo e o lider da bancada da oposição, como a grande novidade deste debate.
Não nos lembramos, em recentes anos, de tal empolamento jornalístico em redor do que devia constituir o normal e regular trabalho da Assembleia elegida para controlar e julgar o trabalho do governo. Contrariamente ao que possa pensar-se, a atenção não se fixou em saber se as despesas vão ser contidas ou se haverá outras receitas para além daquelas extraídas do aumento da carga fiscal. Não, a atenção concentrou-se no debate entre "dois velhos conhecidos" que, de há muito, personificam a ideologia velha que nos governa de há vinte anos a esta parte. Como era de esperar, numa situação em que o governo dispõe de maioria absoluta e não necessita de apoios ou compromissos para impôr outra política que não de direita, a direita, propriamente dita, ficou sem espaço para poder oferecer uma alternativa credível ao país. Chegámos assim a uma situação de impasse ideológico total, agora que um partido - o do governo - "secou" o centro político e pode agir politicamente a seu belo prazer sem risco de ver contestadas as medidas que toma.
Para já, os índices de popularidade, dão-lhe (aparente) razão. Os portugueses, apesar de penalizados, não vêem alternativa concreta e basta o primeiro-ministro acenar com o passado recente para assustar os mais incautos. Quem quer ver de volta o "menino guerreiro"?
Foi isso que, ontem, se passou no hemiciclo. O "pistoleiro" enviado pela oposição para disparar mais rápido do que o "justiceiro" de serviço, mal conseguiu sacar do revolver e já estava crivado de balas. Na pradaria portuguesa, o "lonely ranger" continua a assobiar para o lado. Como nos filmes do Sergio Leone...
1 comentário:
Concordo totalmente Rui. Para sermos inteiramente justos o "justiceiro" chamou a atenção para a tentativa do "pistoleiro" de transformar o importante debate numa espetáculo de índole circense. E para continuarmos a ser justos e continuando também a usar a metáfora "westerniana", com oposição assim não há duelo ao pôr do sol...
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