2007/12/10

Circo Darfur (2)

Agora que a "Cimeira de Lisboa" terminou não faltam os auto-elogios. Do "espírito" da dita, à "ponte" que Lisboa parece simbolizar, os olhos dos nossos governantes querem à viva força fazer-nos acreditar que tudo foi bom e a partir daqui nada ficará como dantes. Infelizmente, a realidade não se compadece com o triunfalismo das declarações de ocasião. Os direitos humanos só raramente estiveram na agenda das reuniões e os acordos negociais não agradaram a todos os países africanos. Não fora Merkel "puxar as orelhas" a Mugabe, ninguém ouviria o nosso governo dizer o que quer que fosse sobre a presença dos ditadores em Lisboa. De acordo com as informações publicadas, estiveram em Lisboa oito líderes africanos que poderão vir a responder à justiça: Omar al-Bashir (Sudão), Meles Zenawi (Etiópia), Isaías Afewerki (Eritreia), Robert Mugabe (Zimbabwe), Jose´Eduardo dos Santos (Angola), Muammar Kadhafi (Líbia), François Bozizé (República Centro-Africa) e Paul Kagamé (Ruanda). Uma galeria de títeres.
Cá fora, e à excepção de algumas manifestações de exilados africanos contra os regimes do Zimbabwe, Angola e Líbia, pouco se deu pela contestação. As únicas notas dissonantes parecem ter sido as agressões dos "gorilas" de Kadhafi aos líbios que protestavam contra o coronel e a humilhação a que foram sujeitos os repórteres portugueses, na tenda do líder, quando os seguranças líbios confiscaram o material filmado. Isto tudo nas "barbas" das autoridades portuguesas.
Curiosamente, e lendo as notícias estrangeiras, pode perceber-se que muita coisa ficou adiada nesta cimeira e os temas comerciais foram os menos consensuais. Ao mesmo tempo, na BBC de Londres, um padre negro anglicano cortava em tiras o seu colarinho como protesto contra o regime de Mugabe e, em Paris, as manifestações contra Kadhafi eram, não só de líbios exilados, mas de socialistas franceses que se opõem à visita do Coronel.
A tenda, em Lisboa ou em Paris, será certamente a mesma, mas os circos e os intervenientes são, apesar de tudo, diferentes. Cada país tem os palhaços que merece.

1 comentário:

xistosa, josé torres disse...

Foi a euro-africana confraternização, com os nossos (contribuintes) dinheiros.
A minha parte continha arsénio.
Parece-me que ninguém se queixou e por exemplo a mulher de Eduardo dos Santos, continuará a ir no jacto particular, fazer compras a qualquer capital europeia, menos Lisboa e voltará inocentemente para o seu país.
Assim de momento, não vejo nenhum país democrático em África ... nem África do Sul, Namíbia ...
Foram colonizados, mas não lhes deram a instrução necessíria ... não interessava.
Tenho 60 anos, quase mais um, mas nem os meus filhos irão ver países democráticos em África.
Para não falar nos países muçulmanos ...
Talvez seja melhor só olharmos para o umbigo e assobiar qualquer canção de embalar ...
Estive, obrigado, quase 3 anos em Angola, em rendição individual.
Não encontrei um preto que gostasse de trabalhar ...
Eu também não gosto e muitos como eu. Mas há uma fronteira!
(falei em pretos, porque ao aprender as cores, aprendi branco, preto ..., o meu maior amigo em Castelo Branco, onde fui parar aos 5 anos, e do Fernando Cordas, era preto - o Chaves e sempre respeitei as cores. Não era agora que os ia pintar de negro)
Espero que distribuam as vitualhas sobrantes, nem que seja como fez o Cavaco, em títulos do tesouro, (que se esfumou!)