2007/12/16

Azar ou ASAE?

Anda para aí a correr um abaixo assinado contra a actuação da ASAE na área da comecialização de alimentos e restauração. O âmbito de actuação deste organismo, creio, estende-se muito para além disto, mas foram os "morfes" que motivaram os autores a pôr o dito abaixo assinado a circular.
Devo confessar que não assino porque não concordo com os pressupostos do texto. Como tenho pacientemente explicado a todos os estimados amigos e conhecidos que se apressaram a enviar-me o dito abaixo assinado, acho que, entre a ASAE e os contestatários, a uns lhes falta bom senso, e aos outros bom senso lhes falta... Ao leitor caberá decidir quem é quem nesta dicotomia.
Enquanto observo este intenso e arrebatador confronto vou subindo ao céu com um cozidinho da panela, preparado de forma rigorosamente tradicional como a foto ilustra (foto que foi tirada em local que por razões de bom senso não vou revelar...)
Participar num ritual destes é coisa que temos de merecer. A tradição começa nas próprias panelas que foram há muito convenientemente tratadas com toucinho. Este tratamento preliminar prepara-as para esta delicada e longa operação. Os ingredientes são, de cada vez, seleccionados pessoalmente pela cozinheira e provêm directamente do produtor. O prato é confeccionado com os ritmos, os vagares e os procedimentos que a regra tradicional dita. Usam-se brasas, nada de gás! A preparação, que dura cerca de seis horas, é levada a cabo por mãos experientes e carinhosas. A cozinheira aliás sorri serenamente --com um sorriso que nos permite perceber a razão primeira da excelência de tamanha iguaria-- quando lhe falamos nestas coisas de ASAEs, abaixo-assinados, etc e tal...
Azar dos membros da ASAE se, por fundamentalismo, nunca tiverem a oportunidade de se confrontar com um pitéu deste calibre. E azar dos "abaixo-assinantes" se alguma vez, por falta de uma ASAE por perto, lhes derem cozido com carne de gato por cozido com carne de lebre...

6 comentários:

Rui Mota disse...

Apesar da "tradição" já não ser o que era, penso que é bem melhor ter a ASAE por perto do que não tê-la. No mesmo ano, sofri duas intoxicações alimentares: uma em Lisboa, num "chinês" e outra em Sevilha, num "shoarma" árabe. De resto, as "culpas" atribuidas à ASAE, como bem explicou o seu director em recente programa televisivo, são infundadas. A ASAE (para quem não sabe) não aplica coimas. Limita-se a inspeccionar de acordo com determinadas exigências instituidas pelo governo que, por sua vez, obedece a Bruxelas. Das 6.000 inspecções feitas nos últimos dois anos, só 0,2% foram alvo de sanções. Dito de outro modo, a restauração portuguesa é, apesar de tudo, uma boa restauração em termos higiénicos e alimentares. Se isso também se deve à ASAE, tanto melhor.
Dito de outro modo: o mal não está em comer gato, está na forma de prepará-lo (provérbio chinês).

Carlos A. Augusto disse...

Eu não sou contra a ASAE e o meu escrito creio que deixa isso claro. Se há "serviço público" que não contesto é o que esta entidade presta. O problema está nos exageros e nas "standardizações" forçadas. O problema está no querer ser ser mais "papista que o Papa"... Dou por mim a pensar, quando visito certos países do "primeiro mundo", que não lhes ficaria mal em aprender com a competência da ASAE...
Tenho visto muita javardice por aí e consola-me que exista uma ASAE actuante e eficaz. Mas, também vejo um fundamentalismo legislativo completamente ridículo, que não é originado pela ASAE, mas que deverá condicionar a sua actuação. Um fundamentalismo que parece assentar no princípio "Todos iguais, todos iguais"...

xistosa, josé torres disse...

Qualquer dia só podemos comer chouriço em frascos de vidro esterelizados, toucinho de porco, do cozido, com o veterinário ao lado ou à cabeceira da mesa.
Couves, cenouras, nabos e batatas, com a química ou o marido químico, para tentar descobrir sulfitos, sulfatos e quejandos.
Carnes certificadas pela entidade que VENDE o carimbo, para atestar que os tuberculosos animais, morreram serenamente.
Que os porcos, tomaram banho, apesar da peste suína não fazer mal aos humanos.
Que o frango, (longe do cozido - mas tu Margarida não chores que esta vida são dois dias), tem os pelos e penas bem tratados e se eventualmente tiver o H5N1, é porque não foi detectado.

Ninguém come lavagem, nem os porcos, segundo os dietistas.

Tomei conta dum restaurante, só para amigos, onde a ASAE nunca irá, onde cozinho a meu bel-prazer.
Umas paelllas, onde se misturam, carnes, legumes, mariscos, arroz, e crustáceos. Porcarias que nos elevam o colesterol.
Também há pézinhos de coentrada, lavados no bidé, onde ponho o bacalhau de molho, para o cozinhar com natas.

Há sempre um risco, um foto-finish, ou um fim, mas o início e o meio são os fulcros deles.

Já entrei num café com a família, pedi três cafés e quando me apercebi onde lavava a loiça, mandei-o beber ele os cafés. Tive que pegar numa cadeira para telefonar à GNR.
Mas nem tudo é mau e as tradições vão-se perder.
Alguém já pensou o que será acabar com o Sarrabulho em Ponte de Lima e não só.
Com o leitão da Bairrada ???
Com as migas e açordas dos nossos amigos papa-açordas.
Falo assim, porque o meu genro é alentejano e respeito todos.

Vamos ter que comer frango com penas, desde que bem lavadinho e temperado !!!

Não sei se poderemos beber café seco, torrado e moído por nós.
E os figos flor de mel, que são secos nas eiras, onde "pastam" as galinhas e cagam a torto e a direito sobre tudo e todos.
Nem nos recordem pecados que possam existir!

Rui Rebelo disse...

Azar ou ASAE?

A questão é pertinente mas as petições on-line são perfeitamente inuteis e não representam coisíssima nenhuma. Podem facilmente ser aldrabadas e ninguém confere a autenticidade dos dados. Para não falar que muitas vezes estamos a divulgar B.I. e e-mail, sabe-se lá a quem...

Não à petição on-line. E se fizessemos uma petição on-line contra a petição on-line?

Carlos A. Augusto disse...

Assinar uma petição contra as petições? Mmmmm ... não assino!

APC disse...

Mas "ai, as minhas ginginhas"...

:-)