2008/01/24

Tratar da Saúde

Correia de Campos anda nervoso. Não é caso para menos. Depois de uma primeira passagem pelo governo de Guterres, voltou, agora com Sócrates, ainda mais aguerrido e defensor de "boa" saúde. Aquela que se paga. Nos tempos do primeiro engenheiro, a matéria ainda era um misto de "piedosas intenções católicas" e incipiente "gestão" do sistema, pelo que o nosso "expert" não teve tempo de testar o seu modelo. Agora, com quatro anos de maioria absoluta e os interesses do Mello e do Espírito Santo à espera, há que avançar a todo o vapor. Apoiado na sanha de um primeiro-ministro asséptico, que deseja fazer de cada português um corredor de meio-fundo, Campos não esteve com meias-medidas: vá de reorganizar a "malha" (adoro este termo) hospitalar e fechar tudo o que não é rentável, com a promessa de que tudo vai melhorar...
Obrigados, pela força das circunstâncias, a deslocarem-se aos serviços disponíveis da sua área - e não tendo muitas vezes como - os habitantes pobres do Portugal profundo só têm duas soluções: chamar a ambulância e esperar que sejam curados a caminho das urgências mais próximas ou, caso estas (as ambulâncias) falhem, morrer à porta de urgências fechadas. Só quem nunca viveu no Barroso, em Trás-os-Montes, no Alentejo, ou na Serra Algarvia, pode pensar que as ambulâncias percorrem as sinuosas estradas a 100 à hora e chegam às urgências dos hospitais equipados, em menos de 20 minutos. Uma demagogia sem limites. Mesmo que a "malha" venha a ser operacional no futuro, começar a fechar as urgências sem que exista uma alternativa credível, é uma medida de mau gestor.
Porque os acidentes não tardaram e a revolta das populações também não, o ministro tem-se desdobrado em entrevistas e declarações televisivas a tentar justificar o injustificável: entre as suas intenções e a realidade do país, vai um passo de gigante. Um típico burocrata, enfeudado em números e modelos que não são compatíveis com o interior que temos.
Enredado nas "malhas" que ele próprio teceu, passou ao ataque. Já tinhamos dado por isso num recente programa "Prós & Contras" onde, de forma autoritária, ameaçou em público o representante da Ordem dos Médicos. Agora, foi um bocadinho mais longe: telefonou duas vezes para casa do presidente da Câmara de Anadia, a responsabilizá-lo por qualquer acidente que pudesse acontecer com as ambulâncias do INEM.
Correia de Campos parece querer, de facto, tratar-nos da saúde. Literalmente.

2 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

Boa malha!

Rui Mota disse...

Fui ver e, como se trata de um "cliché", acho que não está mal. Estou a escrever sobre a campanha europeia do "preservativo". Certo?