2008/02/16

Esquecer as pessoas, Export-Import SA

Volta não volta lá lemos mais uma notícia de uma criatura qualquer que nos Estados Unidos pega numa arma e atira sobre a multidão. Acontece em edifícios públicos, em parques e o atirador acaba geralmente a sua "performance" suicidando-se.
Não é só no E.U.A. que acontece este tipo de massacrees, claro, mas este país é particularmente fértil neste tipo de casos. Desta feita foi na universidade de Illinois Norte. Um antigo aluno da universidade atirou sobre mais de uma centena de alunos que assistiam a uma aula, matou cinco, feriu quinze e suicidou-se a seguir.
Pergunto o que leva uma pessoa a cometer este tipo de actos, e pergunto o que leva este tipo de actos a ocorrer com tanta frequência naquele país.
O acontecimento foi o quarto numa só semana nos E.U.A., que originaram um total de 9 mortos. O ano passado ocorreu um outro no Virginia Tech do qual resultaram 33 mortos.
Por coincidência, no mesmo jornal onde li este caso (o Público de hoje), a cineasta moçambicana Isabel Noronha declarava, a propósito dos recentes acontecimentos em Moçambique, que as reformas ditadas pelo Banco Mundial para esse país "esqueceram as pessoas".
É grande a tentação de dizer que nos E.U.A. os casos frequentes de massacres, do género do que ocorreu agora no Illinois, se fica a dever ao facto de ali se terem há muito esquecido das pessoas...

5 comentários:

Rui Mota disse...

A questão dos massacres nas universidades americanas (uma verdadeira "rage"), está directamente relacionada com a cultura de violência existente (mais de 100 milhões de armas nas mãos de civis) e a cultura de competição nos estabelecimentos de ensino (publish or perish). O filme de Moore, "Bowling for Columbine", é um bom documentário sobre o assunto. Da mesma forma que a pena de morte subsiste, também é permitido aos americanos possuirem armas em casa. Não é, pois, de admirar que os EUA exportem a violência para outras áreas do Mundo. Os EUA são o país do Mundo que mais guerras e invasões cometeu em toda a história da humanidade. Como dizia o outro, isto anda tudo ligado...

Rini Luyks disse...

Inesquecível a entrevista de Michael Moore (em "Bowling for Columbine") com Charlton Heston, o presidente do National Rifle Organization, em http://video.aol.com/video-detail/michael-moore-charlton-heston-interview-from-bfcolumbine/1415974736 (vou pôr no nosso blogue).

Carlos A. Augusto disse...

A ideia que o Rui defende é a de que "a ocasião faz o ladrão", por assim dizer. Há muitas armas à solta nos EUA e portanto o ambiente é propício a situações com estas que vimos relatadas.
Mas, a proliferação de armas não explica a frequência da ocorrência destas coisas e, sobretudo, os alvos. Estamos a falar de gente inocente que vai desta para melhor porque um maluco qualquer pega numa arma e decide tratar da saúde a uma série de compatriotas...
É fácil de facto consumar o acto, mas não o explica e não explica a tal "rage".
É um assunto interessante para os psicólogos e para os sociólogos.
Ah!, a propósito, o assassino do Illinois era sociólogo...

Rui Mota disse...

Os (actuais) Estados Unidos eram um territótio inóspito há 500 anos atrás. Os únicos habitantes à época e, nesse sentido, os únicos americanos genuínos eram os índios que, como sabemos, chegaram 10.000 anos antes ao território, através do estreito de Bering. O que se passou depois, com as sucessivas vagas de colonizadores europeus que rumaram à costa californiana (a conquista do Oeste), foi um extermínio sistemático dos indígenas pelo controlo do território. A lei do "faroeste" foi imposta pela violência e esta através das armas de fogo que os brancos possuiam e os índios, numa primeira fase, não. Com a declaração de independência no século XVIII, a situação política foi legalizada, mas a questão das armas nunca foi resolvida. A posse de armas (tradicionalmente toleradas para defesa) é hoje parte integrante desta cultura que mantém, na maioria dos seus estados, a pena de morte legalizada. Uma cultura de violência, pois, que em tempos de crise social vem ao de cima. As recentes guerras (Vietnam, Golfo e Iraque) terão contribuido ainda mais para essa mentalidade guerreira latente na sociedade. Qualquer pessoa, maior de idade, pode obter uma arma, bastando apresentar o seu ID e o cadastro criminal.
No ensino, são de há muito conhecidos estudos, psicológicos e sociológicos, sobre a cultura competitiva das escolas, ela mesmo um reflexo da mentalidade de competição existente na sociedade. Um aluno médio, filho de família disfuncional, que não obtenha resultados imediatos na faculdade, sabe de antemão que tem mais probabilidades de ser um "loser" do que um "winner". A tendência para auto excluir-se, adoptar comportamentos marginais e juntar-se a "gangs" que utilizam a violência como afirmação de identidade é, por isso, maior. É dos livros e, já agora, dos filmes. Vejam-se os excelentes "Elephant" e "Paranoia Park" de Guus van Zandt ou, o mais recente "Estranha em Mim", com Jodie Foster no papel de uma vítima de violência gratuita que decide comprar uma arma para vingar-se. Baseados em factos reais.
Também é verdade que os canadianos (como bem mostra Michael Moore) apesar de terem leis semelhantes não andam aos tiros como os americanos. Uma questão civilizacional ao que parece. Terá a ver com o tipo de colonizadores e o processo de colonização, que foi diferente nos dois países...
Já sobre os sociólogos também dispararem, é natural. Há por aí muito sociólogo "marado", como sabemos. Eu conheço vários!

Carlos A. Augusto disse...

A propósito da menção que o Rui faz aos canadianos, é interessante notar que justamente no Canadá, no seio das comunidades nativas, isoladas e "territorializadas", acontecem com alguma frequência casos como estes.
Como as "americanices" têm tendência para mais facilmente ganhar o espaço dos media, pode ser que haja alguma dose de mimetismo nestes casos...