2008/03/18

Iraque, ano cinco

Na semana em que passa mais um aniversário do início da guerra do Iraque, os "média" tentam contabilizar o número de mortos iraquianos. O número de mortos americanos é conhecido (cerca de 4.000) e, da sua contagem, encarregam-se diariamente diversos serviços nos Estados Unidos. O "New York Times" mantém, mesmo, uma rubrica onde publica regularmente a fotografia, o nome e o "ranking" do falecido. Quando o número de vítimas americanas atingiu os 2.000, o jornal publicou um encarte com as fotos de todos os soldados mortos. Sem comentários. Uma tomada de posição que calou fundo na opinião pública americana. Três anos mais tarde, não é de todo improvável que o NYT repita a edição, agora a dobrar...
Mais difícil de contabilizar parecem ser os mortos iraquianos. As estimativas variam entre 82.199 (segundo a organização britânica "Iraq Body Count") e os 1.033.000 mortos (segundo a "Opinion Research Business", uma organização de contagem britânica). Mas há mais estimativas: de acordo com o Inquérito de Saúde Familiar no Iraque (governo) elaborado em colaboração com a Organização Mundial de Saúde, teriam morrido cerca de 151.000 iraquianos. Já o estudo dos especialistas iraquianos, da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, calcula terem sido 654.965 os mortos iraquianos, dos quais 601.027 em consequência directa da guerra.
Pesem as metodologias usadas (nem sempre coincidentes) o número 151.000 da OMS, parece ser o mais credível, dado que 92% das mortes foram confirmadas através das certidões de óbito.
Como sempre acontece, não faltaram as vozes "discordantes": Bush à cabeça (who else?) e o governo britânico, cúmplice da invasão, foram os mais críticos em relação aos números apresentados. Entre os tradicionais apoiantes portugueses, o descaramento não é menor: tanto Durão Barroso, como os "fazedores de opinião", José Manuel Fernandes ou Pacheco Pereira, continuam a defender a tese de que "perante os dados conhecidos" (que eram falsos) teriam apoiado a invasão...como se a invasão de um país soberano, à revelia das leis internacionais, fosse defensável. Que tudo tenha corrido mal, parece ser apenas um pormenor sem importância para estes defensores da "democracia ocidental". No fundo, o que são cento e cinquenta mil anónimos mortos?

4 comentários:

Carmo da Rosa disse...

'um pormenor sem importância para estes defensores da "democracia ocidental".'

Há aqui tanto para dizer, tanto para debater, mas não, hoje prefiro ir jogar squash e vou ficar por aqui.

Conheces outras ‘democracias’, sem ser a ocidental, que valham a pena defender?

Rui Mota disse...

Depende do que consideremos o "Ocidente". Na versão etnocêntrica, o "Mundo" acaba no Hemisfério Norte. De qualquer das formas, a "defesa" (ou a guerra americana de prevenção) da democracia ocidental foi a desculpa para invadir o Iraque. Para quem se considera democrata, temos de concordar que foi uma forma pouco democrática de implementar a democracia...

Carmo da Rosa disse...

Parece que estou a falar com um político! Vou ter que reformular uma pergunta tão simples:

És capaz de dar nomes de países muito mais democráticos que os EUA, seja em que hemisfério for?

P.S. E já viste o filme do Wilders? E já leste o ‘j'accuse’ de um marroquino que em meia dúzia de palavras resumiu magistralmente o problema da integração, como ainda não vi ninguém fazer...

Rui Mota disse...

Os EUA são, certamente, um país - como muitos outros - democrático. E daí? Isso não lhe dá o direito de invadir países para impôr um modelo político que os seus dirigentes pensam ser o melhor para o Mundo. A democracia conquista-se, todos os dias, e não se impõe.
Mesmo pondo de parte a concepção de "guerra justa" (utilizada conforme o jeito que nos dá), a verdade a que a invasão do Iraque foi baseaada em pressupostos falsos: a existência de ADM e ligações ao AlQaeda e, na sua génese, teve duas ideias-base: o controlo de meios energéticos vitais (petróleo e gaz) e a ideia peregrina dos "neocons", segundo a qual derrubando o Sadam criava-se um exemplo "democrático" para a região.
Como sabemos hoje e na altura muita gente avisada alertou, nada do que foi sugerido existia e o caos instalou-se na região. Pior: o Irão ficou mais forte e hoje a sua influência extravasou as suas fronteiras (controla indirectamente o Iraque através do governo e os principais poços de petróleo no Sul do país). A guerra, que devia trazer mais democracia para a região, trouxe mais caos e destruição para toda a região. O próprio Hezbollah e o Hamas, estão hoje mais fortes devido à invasão americana. Extraordinária, esta concepção americana de democracia...