2008/04/26

26 de Abril

Os comentários do Presidente da República a propósito do suposto desinteresse da "juventude" pela política são curiosos. Habilmente, de uma forma que só os políticos conseguem (ou têm lata para) fazer, o ónus da culpa é invertido. Até parece que a forma como os políticos servem o poder aos cidadãos não entra nesta equação. Parece mesmo que o cidadão que ocupa actualmente o cargo de Presidente da República não contribuiu generosamente, enquanto primeiro ministro, para esse desinteresse. Parece, enfim, que este mesmo PR não continua a ser um contribuinte activo, apesar dos seus reparos contristados, para esse desinteresse ao ignorar publicamente os desvarios do Presidente do Governo Regional da Madeira, quando todos esperávamos que esta oportunidade para dignificar a prática política (esta prática política de que eles próprios são protagonistas!) não fosse desperdiçada. Rico exemplo que fica para as gerações futuras!
Neste contexto, pergunto-me se os mesmos jovens deputados que intervieram ontem na sessão comemorativa do 25 de Abril na AR terão a noção de que, naquele hemiciclo, são tanto parte do problema como aqueles que eles próprios criticam. Não vi nenhum dos jovens levantar-se da cadeira do poder em que nalguns casos, episodicamente, se sentaram quando o PR teceu as suas considerações.
No 25 já estávamos a 26...?

2 comentários:

Rui Mota disse...

Bem observado. Até parece que o Sr. Silva não esteve dez anos no poder. Ele, que até não gostava de políticos e desprezava os partidos, a começar pelo seu. Além do mais, e como sabemos, não lia jornais e, presume-se, não via televisão...
Por outro lado, não deixa de ser verdade o que o "estudo" da Católica revelou: muitos (a maior parte?) dos jovens não sabe e muito menos se interessa pelo 25 de Abril, ou o que esta data significa. Nesse sentido, já estamos de facto no "26 de Abril".
Uma conclusão óbvia é que, aqueles que têm hoje menos de 35 anos e já nasceram em democracia, não sentem tanto a necessidade de questionar a presente. Isto não é necessariamente mau...
Outra conclusão, tem a ver com a congénita ignorância do povo português. A iliteracia também explica parte deste drama cultural.
Finalmente, o desinteresse a que são dedicadas as disciplinas humanistas no ensino (história em particular), explica muito desta ignorância.. A obsessão pelos "choque tecnológico", é no que dá...

Carlos A. Augusto disse...

É claro que aos "alertas" do PR temos que juntar as declarações dos partidos (todos, sem excepção), uns sublinhando oportunisticamente as suas palavras, outros tentando desviar uma conversa que já de si é um desvio da realidade...
Como se não estivessem todos ao serviço do poder!