2008/04/17

O "Testa de Ferro"

José Faria, ex-motorista de Avelino Ferreira Torres, deu uma entrevista à televisão portuguesa, digna das melhores histórias sicilianas. Disse o homem que receava pela sua vida e por isso tinha-se refugiado no Brasil, pois sabia demais e já tinha havido uma tentativa de "calá-lo". Para melhor ilustrar a sua tese, mostrou a boca, desdentada, onde podiam notar-se as marcas de uma alegada agressão. É possível. Depois de ver os impropérios e ameaças do ex-autarca de Marco de Canaveses, no tribunal onde está a ser julgado, diria mesmo mais: é bastante provável.
Temos pois, aqui, todos os ingredientes necessários a uma boa história de "omertá": numa pequena cidade do Portugal profundo, um cacique local domina a seu belo prazer, enquanto compra o "silêncio" dos seus apaniguados através de pequenas mordomias. O clientelismo, na sua forma mais larvar. Como as relações de patrocinato são sempre assimétricas, o protegido aceita as condições do patrono, a troco de protecção. O sistema funciona, enquanto o "eleito" puder distribuir mordomias. Um jantar aqui, uma festa acolá, viagens ao estrangeiro, favorecimento nos pequenos negócios da terra, aprovação de construção em terrenos interditos, são alguns dos exemplos de que as nossas autarquias estão cheias...
Em troca, o "padrinho" exige fidelidade absoluta e utiliza o "intermediário" para fazer negociatas em seu nome. Chama-se a isto um "testa de ferro". José Faria era o "testa de ferro" de Avelino Torres.
O pior foi quando este último perdeu a Câmara de Marco e, depois de uma tentativa falhada para conquistar a Câmara de Amarante, foi acusado de diversos crimes, pelos quais está hoje a responder perante a justiça. Nessa altura, o ex-motorista perdeu a protecção. Como parece não ter grande jeito para negócios e ainda por cima começou a dar com a "língua nos dentes", foi aconselhado a mudar-se para o Brasil. Lá tratavam dele. O home acreditou e hoje não tem dentes. Mas tem língua e por isso já declarou querer falar em tribunal, desde que sob protecção policial. Já vi este filme em qualquer lado, mas a história é sempre boa. Porque não adaptá-la ao cinema? Como os "Sopranos", por exemplo...

3 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

A dúvida sobre uma tal série seria como classificá-la: drama ou comédia...?

Rui Mota disse...

Podemos deixar a classificação a cargo do Moita Flores...

Carlos A. Augusto disse...

E, ele próprio, é tragédia ou comédia...?