2008/11/03

Magia Sevilhana

Não sei se Sevilha tem mais encanto na hora da despedida, mas a última WOMEX ali realizada será, certamente, lembrada como a feira onde esteve presente a maior representação portuguesa de sempre e a edição onde Camané foi responsável por um dos concertos mais apreciados do certame.
Seleccionado por um juri internacional, que reuniu em Berlim no passado mês de Maio, a actuação do fadista português não era de todo isenta de riscos. Desde logo, porque não possui o carisma das "divas" que o antecederam e, depois, porque em apenas 40 minutos, muita coisa pode correr mal. Juntem-se os nomes sonantes que tinham precedido o cantor português no palco do Teatro Lope de Vega, desde o Flamenco Miguel Poveda (Espanha) ao mago do cimbalon Kalman Balogh (Hungria), passando pelos fabulosos "La Filleta" (Córsega) ou o projecto Mike Marshal + Vasen (USA/Suécia) e pode imaginar-se a tarefa. Mas o "principe" do fado saiu-se bem e as pessoas que, pouco a pouco, foram enchendo a sala do prestigioso teatro, acabaram por ficar rendidas à intensidade da arte transmitida por Camané. Uma emoção que, no dia seguinte, ainda era comentada pelos delegados na Feira, surpreendidos por verem um homem cantar o fado melhor que muitas mulheres...
Depois, a WOMEX propriamente dita. No mais importante certame de "WorldMusic" estiveram presentes 2800 delegados que, durante quatro dias, circularam por entre os dois pavilhões do Centro de Exposições FIBES, onde em permanência estavam 320 "stands" (record absoluto) representando 650 companhias de produtores, agentes, empresários, editores e artistas. De Portugal, destaque para a Associação MUSICA PT, uma organização "chapéu-de-chuva" que congrega já 17 empresas e 5 associados individuais, naquela que foi a maior e mais bem sucedida apresentação lusa na história da feira.
Sábado à noite, foi dia de saída ao "tablao" mais famoso da cidade, "Los Gallos", para apreciar a arte de Choni, uma das muitas bailadoras da dança Flamenca presente em Sevilha. E como se dança bem em "Los Gallos"!
No último dia (ontem) tempo ainda para assistir à entrega dos prémios WOMEX 2008, desta vez autorgados à Academia Sibelius da Helsinquia (Finlândia) pelo seu trabalho em prol da música tradicional e ao grupo Muzsikás (Hungria) pelos seus 35 anos de carreira. Não faltou o concerto final, a provar que os embaixadores magiares estão para durar e que o legado de Bela Bartok continua a ser uma fonte inesgotável. Prémios merecidíssimos, pois, que relevam da força da (boa) tradição musical, em tempos conturbados na industria discográfica internacional.
Em 2009 a feira muda-se para Copenhagen, por um período de três anos. Logo agora, que estávamos a habituar-nos à Andaluzia e às suas "sevilhanas"...

3 comentários:

Rini Luyks disse...

Realmente é uma pena, caro Rui, Sevilha tem muito encanto.
Já não vou há duas décadas. Nos meus primeiros anos de músico de rua em Lisboa, Sevilha foi a minha "estação de hibernação". Foi a única das três grandes cidades em Espanha que conheço bem (as outras Madrid e Barcelona, claro), onde consegui sobreviver como músico.

Off-topic: o Teatro Lope de Vega conheço por causa do lendário duelo de xadrez entre Kasparov e Karpov em 1987, onde o meu antigo colega xadrezista do clube holandês S.M.B. Nijmegen (Strijdt met Beleid!) Geurt Gijssen teve a grande honra de ser o árbitro principal.

Rui Mota disse...

Olá Rini,

Não sabia que o Lope de Vega tinha sido palco de um jogo mítico de xadrez. O Mundo é, de facto, pequeno. Como podemos ver, a sala continua a honrar os seus pergaminhos: no fundo, o Camané é assim uma espécie de Kasparov do Fado, não é verdade?...

Rui Mota disse...
Este comentário foi removido pelo autor.