2009/06/13

Guerras e guerras...

Vamos discutir o Cristiano Ronaldo a sério? Querem...?

O Instituto de Pesquisa para a Paz de Estocolmo anunciou há dias que 2008 foi o ano em que se gastou mais dinheiro com armamento. Cada ser humano "gastou" cerca de 155 euros... Os E.U. vão à frente com 903 milhares de milhões de dólares. Segue-se a China, a França, o Reino Unido, a Rússia e até o "Brásiu" aparece na lista em lugar de destaque. Foi mais de um bilião de dólares gasto em armas, qualquer coisa como 2,4 por cento da riqueza mundial. E isto é o comércio "lícito", ou seja, comércio levado a cabo por empresas estatais ou "de defesa", como hipocritamente são chamadas. Não estão aqui contemplados os valores do comércio "ilícito", nem do comércio de pequenas armas. E tudo isto não passa de uma parte insignificante da estimativa dos gastos globais com a defesa que ultrapassam os mil biliões de dólares (*).

O desporto, principalmente o desporto praticado em equipe, sempre constituiu para mim uma metáfora da guerra. E sempre tive grande respeito por esta manifestação humana. Onde uns vêem um mero pontapé na bola, eu e muitos outros, vemos uma expressão superior do nosso humanismo. Porque somos seres humanos mesmo quando os maus instintos nos querem comandar e porque somos capazes de inventar formas de nos rirmos deles. O desporto é uma metáfora de guerra, não a guerra! Confesso que prefiro a metáfora ao facto real. Preferia mil vezes saber que o meu clube perdeu uma final no último minuto com um pontapé acrobático de fora da área do ponta de lança adversário, do que saber que o meu país bombardeou uma aldeia com napalm. Prefiro saber que não sei que avançado marcou um livre, com a bola a ser "disparada" a 120 km/h, do que saber que morreram mais não sei quantos soldados portugueses, de uma dessas forças que se encontram estacionadas no Afeganistão ou no Líbano, vítimas do fogo de armas que disparam balas reais, que matam realmente. Prefiro saber que o ponta de lança que marcou o tal golo no último minuto foi contratado por uns largas dezenas de milhar de euros, do que saber que o meu governo fechou um negócio para fornecimento de armas a não sei que país, cujos habitantes morrem à fome, mas cujos soldados estão armados dos pés à cabeça com o material mais mortífero e sofisticado.

Kimi Raikkonen, Michael Jordon, Phil Mickelson, Tiger Woods, Fernando Alonso, Roger Federer, Oscar De La Hoya, Shaquille O'Neal, Kobe Bryant, Alex Rodriguez, sabem quem são? São alguns dos atletas que figuram numa longa lista dos mais bem pagos do mundo, onde o C. Ronaldo nem sequer tem ainda direito a figurar. No caso do futebol, David Beckham, o único que figura nesta lista dos mais bem pagos, destaca-se, seguido, muito ao longe, por Lionel Messi e Ronaldinho Gaúcho. Cristiano Ronaldo lá vem a seguir, praticamente a par de outros nomes como Káká ou Tierry Henry. Ou seja: apesar dos flashes, o Cristiano Ronaldo ainda não passa de um artista mediano.

Chamem-me ingénuo, mas confesso que não percebo o coro que para aí se ouve e o que deu a alguns responsáveis políticos e comentadores da coisa pública quando vêm criticar os valores da transferência do Cristiano Ronaldo, fazendo comparações destes valores com os orçamentos para a construção de um novo hospital ou escola, e atribuindo ao montante da transferência o poder de "desvirtuar" a verdade desportiva... A "verdade desportiva"...?! Será também em nome da "verdade desportiva" que se bombardeiam escolas ou hospitais? Quando vir a mesma aplicação e o mesmo arrebatamento de toda esta gente a exigir a redução dos orçamentos de defesa dos países e a reclamar o fim do macabro comércio do armamento, então falamos.


(*) Confesso humildemente a minha dificuldade em grafar de forma correcta estes números com muitos zeros...

2 comentários:

Rui Mota disse...

O preço dos "cromos" está incalculável.
Algures, entre o armamento e os desportistas, está a indústria farmaceutica. Também é interessante. Pouca gente fala nela.

samuel disse...

A verdade é que tenho praticamente o "mesmo arrebatamento" em relação ao armamento, à guerra e afins, portanto estou mais à vontade para me "enervar" um bocadinho com aquilo a que, vá lá saber-se porquê, ainda chamam desporto.

Abraço.