2009/06/21

Une voix trés humaine

Para quem não conhece, digo-lhe que a nave do Igreja do Mosteiro de Alcobaça tem para cima de 100 m de comprimento, 20 m de largura e 50 m de altura. Não quero exagerar, mas o tempo de reverberação deve exceder bem os 15 segundos. Tudo parece grandioso neste espaço.
Imaginem agora o pequeno foco sonoro, colocado sensivelmente a meio desta longa nave.
Uma viola da gamba, esse instrumento delicado, dos espaços íntimos e das expressões sonoras subtis, a voix humaine que fez a delícia dos poderosos entre o século XVI e o século XVIII. A viola da gamba foi desaparecendo da paleta instrumental dos compositores à medida que os espaços de concerto foram crescendo, ou o sentido da audição dos junkies da música foi necessitando de estimulantes sonoros cada vez mais poderosos. Um instrumento que fugiu dos espaços nobres da música, mas que, graças a um movimento de revivalismo que começou no século passado, conhece hoje uma popularidade crescente e um interessse renovado pelas suas características únicas.
Imaginem, pois, por favor, esse instrumento subtil, que brilhava nos espaços íntimos dos salões dos poderosos, a soar hoje no espaço imenso da Igreja do Mosteiro de Alcobaça, tocada pelo mestre dos mestres, Jordi Savall. Num contexto destes, posso-vos dizer que a viola da gamba parecia um instrumento vindo do Céu. E posso-vos garantir também que esta viola da gamba celeste foi pretexto para revisitar a minha origem mais remota...
Imaginem agora mais de 700 pessoas a assistir, atentas, a grande maioria delas constituída certamente por forasteiros atraídos por este último e singular evento do Cister Música - Festival de Música de Alcobaça. Pensem no que poderá ter feito rumar a Alcobaça toda aquela gente, para ouvir um instrumento que não deixou qualquer rasto na história da música portuguesa.
Há-de ser amor verdadeiro pela música!
Vá-se lá então perceber porque é que, pelo menos, estas mais de 700 pessoas não andam atrás do ministro, a fazer-lhe esperas em parques de estacionamento e a exigir-lhe explicações sobre as malfeitorias (confessadas!) que este governo tem feito na área da cultura; porque é que não desfilam na Avenida da Liberdade, empunhando cartazes e tarjas pretas; porque é que não fazem vigílias à porta de S. Bento ou outra qualquer iniciativa de luta, daquelas que com belo efeito são frequentemente usadas por quem se sente e vê, de alguma forma, os seus interesses lesados por esta manhosa legislatura em que vivemos...? Deixemos as subtilezas para a viola da gamba...

4 comentários:

Maria Ribeiro disse...

Carlos Augusto:é que há vida para além dos "fogos fátuos" que são os chamados "ministros" de Portugal!Só esses é que ainda não aprenderam nada...excepto a gerir os chorudos ordenados!
Beijo amigo de lusibero

Carlos A. Augusto disse...

Mas é triste andarmos há anos nisto! Sem sequer conseguirmos apagar esses "fogos fátuos" que consomem mais que qualquer outro incêndio...

lusibero disse...

EU tenho cá para mim que, se os portugueses quiserem, talvez se possa fazer alguma coisa...
Lusibero

Carlos A. Augusto disse...

Eu também ME, e se calhar o futuro próximo reserva-nos grandes surpresas. Esperemos no fundo que a capacidade dos portugueses de surpreenderem e de se deixarem surpreender seja afinal maior que esperávamos... Que nos surpreenda...!