2009/08/14

A carreria de Medina

O que vou dizer a seguir será polémico, e a polémica começa, se calhar, aqui mesmo dentro do Face. Mas, aqui vai.
Ouço Medina Carreira, vejo a sua presença cada vez mais assídua na televisão, observo a sua transformação em comentador da moda, e tudo isto me causa uma sensação crescente de náusea.
Não porque muito do que ele diz não seja verdadeiro, não porque a forma como o faz não seja contundente qb, assim como uma espécie de special efx de televisão. Mas, sobretudo, porque ao nível a que ele se coloca, e ao nível a que coloca a discussão, só lhe restaria a alternativa de arregaçar as mangas e dar o exemplo compromentendo-se. O doutor Carreira não está contra o regime que parece denunciar. O doutor Carreira está a fazer o papel do bobo do regime. E é o regime que está mal, não os governantes. Estes servem-se dele como podem e como os deixam. O resto é conversa.
Sublinho e repito: ao nível a que ele se coloca e ao nível a que coloca a discussão, só lhe restaria a alternativa de arregaçar as mangas e dar o exemplo compromentendo-se.
Confortavelmente instalado no estúdio de televisão vai lançando os seus ataques de dentro mesmo de um dos principais sustentáculos e beneficiários da situação que aparentemente pretende denunciar. Carreira luta no maquis da tv. Imagine-se o Cristiano Ronaldo a fazer, no Real Madrid, o jogo do Barcelona. É tão absurdo como ver o doutor Medina Carreira a dizer mal da actual situação e dos actuais situacionistas, seus companheiros de equipa, entre câmaras e projectores, coberto de maquilhagem no meio de um cenário a fingir que há horizonte em tudo aquilo.
Depois há duas outras coisas que não recomendam o dr. Carreira e as suas teses. Primeiro, acusa os políticos de falta de sensibilidade social, de não “ouvirem” o que diz a rua... Mas, de seguida, afirma, peremptório e sem se atrapalhar com o ridículo, que a “solução” para o “problema” do país... é económica!
Ora, ó doutor Carreira, ouça bem o que lhe digo: o problema do país NÃO é económico! O problema é cultural. Haverá uma componente económica no “problema” português, haverá certamente uma dimensão "económica" na sua solução, mas não é a economia que explica o que se está a passar e não serão os economistas, nunca, a encontrar soluções. Quando está a chover, os economistas gostam de dizer "Está a chover!" Já sabíamos.
As provas dadas pelos economistas até agora foram abaixo de cão. A presente crise internacional é em boa medida uma crise forjada nas teorias ensinadas nas faculdades de economia. As receitas, as previsões e as análises dos economistas são pura merda! A lista de “economistas” e de praticantes de “economologia”, consigo incluído, que fizeram as coisas chegar ao ponto em que estão, é longa e sonante. E tilinta! Quanto a mim preferiria mil vezes ter a astróloga Maya a dirigir o país. De certeza que os resultados não eram piores.
Quando se conseguir pôr cobro neste país ao regime de castas, à indigência intelectual, à irresponsabilidade, à imoralidade, à exploração do tempo dos outros, então sim, podemos criar empresas viradas para a exportação, atrair investimento externo ou outra qualquer solução “económica” para regular o modo como nos relacionamos uns com os outros no plano material e procedemos à satisfação das nossas necessidades materiais colectivas e individuais. Até lá, tudo aquilo que o senhor diz não passa de um grande e inconsequente vazio.
Ou terá o senhor a veleidade de pensar que se aquilo que diz fosse verdadeiramente revolucionário, fosse gritado no foro adequado, brandindo as armas justas e os colocasse de facto em causa, esta corja de franganotes que o senhor tanto verbera não lhe tinha já mandado calar o bico?
Isto não vai lá com palavreado dr. Medina. Vai, e tem de ir, de outra forma. Daí eu pensar que a sua carreira já merece reforma...

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

Tenho estado a coligir as reacções ao douto Carreira. O programa deve ter tido uma audiência significativa e há ainda uma percentagem, que também deve ser significiativa, de gente que recorre ao site da SIC para o ver. Prova de que a notícia vai correndo e o impacto terá sido grande...
Pelo que me apercebo, a reacção dos "indecisos" é esta: "aquele gajo é que lhes dá forte e está provado: não vale a pena ir votar. Nem uns nem noutros. É tudo o mesmo..."
Pelo contributo para a cidadania e para a participação na democracia portuguesa proponho ao dr. Cavaco que no próximo 10 de Junho confira ao dr. Carreira a mais alta condecoração do país. Ele merece. O dr. Cavaco também...