2010/05/02

A ditadura voltou

O jogo Porto-Benfica gerou uma operação policial de dimensão nunca vista. Os responsáveis policiais asseguram que tudo está previsto, todos os pormenores foram cuidadosamente analisados, um número obsceno de agentes da autoridade foi destacado para vigiar os potenciais prevaricadores, os meios usados fazem lembrar a cidade de Juarez.
As vias de circulação são cortadas para aumentar a segurança. Imagino o que os desgraçados moradores das zonas atingidas por este tsunami futebolístico não estarão a passar. É um verdadeiro estado de sítio este que foi criado à volta deste jogo. A paisagem policial expande-se, começa em Lisboa e termina no Porto.
Toda a gente aguarda a catástrofe.
A imprensa começa por carregar. "Não acha que isto vai acabar mal...?" "Pensa que as medidas são suficientes...?" "Vamos deixar o aspecto desportivo e vamo-nos concentrar nos incidentes de ontem..."
Claro que o cidadão normal, adepto ou não de futebol, não pode deixar de se interrogar sobre tudo isto. E não pode deixar de perguntar, para começar, quanto é que isto custa aos cofres do Estado, quanto é que esta mega-operação vai pesar no orçamento, nesta época de vacas magras. Ao mesmo tempo, não pode deixar de constatar que não tem alternativa perante tudo isto. O futebol manda e manda quem pode. É, como disse, um verdadeiro estado de sítio este que vivemos, só falta decretá-lo oficialmente.
Não podemos deixar de nos considerar vítimas da ditadura do futebol.

1 comentário:

Rui Mota disse...

Para um país que, ainda há trinta e seis anos, vivia sob o jugo dos três "F's", não está mal este regresso ao passado. O "novo fascismo" deixou de exercer a violência de estado, para promover a violência dos cidadãos. Enquanto claques de atrasados mentais continuam a virar as suas energias para a rivalidade Norte-Sul, pode o governo "dormir" descansado...