2010/08/12

A "época" dos fogos

Portugal está a arder e não se vê fim à vista. Talvez quando não houver mais floresta, e, ao fogo, faltar o material de combustão que alimenta os telejornais todos os anos por esta época. A "época", pasme-se, passou a fazer parte do léxico comum, como o Verão, ou a nova temporada do futebol. Já tinhamos a "silly season", que começa algures em Julho; a "rentrée", que se anuncia para Setembro; a época "balnear" e, de há uns anos a esta parte, a "época dos fogos", algures entre Julho e Setembro, que é quando os turistas nos visitam e os emigrantes descem ao país real. Assim, à falta de animação regional, arranjam-se todos os anos uns fogos para animar a "época". Alguém deve estar a ganhar com este negócio, pois não se percebe que um país depauperado e onde ainda existe uma das maiores manchas florestais da Europa (provavelmente o seu maior património natural) deixe queimar todos os anos centenas de milhares de hectares em dois meses apenas. Como é isto possível?
Todos sabemos que as alterações climáticas existem, que as temperaturas estão a aumentar e que a região mediterrânica é propícia a fogos. Também sabemos que os fogos não são um fenómeno específico de Portugal e que acontecem em países e regiões bem mais ricas e preparadas para combatê-los, como a Califórnia, a Austrália e, este ano, até a própria Russia. Tudo isto é verdade, no entanto...
...De acordo com a maioria dos especialistas nesta matéria, não há praticamente fogos de combustão espontânea e 97% dos casos terão origem humana, seja por acção criminosa, seja por negligência. Se, no primeiro caso, é difícil detectar o culpado em plena acto; no segundo, muito pode ser feito e não se compreende que a sensibilização e a prevenção não consigam ser mais eficazes.
Veja-se o caso do aumento e melhoramento dos materiais postos à disposição dos bombeiros desde 2003, o "ano de todos os fogos". Mais viaturas, mais aviões, mais helicópteros, mais coordenação e até um plano para minorar o flagelo. Ajudou? Aparentemente sim, tem havido menos fogos e menos áreas ardidas nos últimos anos. Mas, bastou um Inverno de chuva intensa, que fez aumentar a vegetação e o potencial perigo de combustão em tempo seco, para que tudo voltasse ao princípio.
Estamos a assistir a um dos piores verões da última década e ainda Agosto não chegou a meio...que fazer, pois?
Ao longo das últimas semanas, dezenas de comentadores (entre os quais o patético ministro do MAI) vêm-nos dizer o óbvio: que o clima está a mudar, que as temperaturas estão a aumentar, que há material suficiente e que os bombeiros são uns seres abnegados. Retive três intervenções: a do presidente da Liga Nacional de Bombeiros, a da presidente da Quercus e a do presidente da Cãmara de S. Pedro do Sul. Todos eles confirmaram a avaliação do ministro, mas acrescentaram algo mais do que a "panaceia" habitual. É preciso atacar o mal a montante, a saber:
Um novo ordenamento do território; um cadastro exaustivo da floresta; a alternância de arvores tradicionais, como o castanheiro e o sobreiro, com o eucalipto e o pinheiro, a limpeza da mata no tempo próprio; a obrigação dos proprietários limparem os seus terrenos; uma política de prevenção de proximidade que envolva poderes locais, bombeiros e populações, que são quem melhor conhecem o terreno e a forma mais eficaz de combater os incêndios.
É difícil? É. É impossível? Não. É necessário? Absolutamente. Então, porque é que não se faz?

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

Tem piada de facto... Em vez de dizer "vou a banhos", pass a dizer-se "vou a fogos"... Assim vai este país ardido e mal pago!!