2010/10/13

Lições do Chile

Ainda nem metade dos mineiros chilenos soterrados foi resgatada e já se podem tirar algumas conclusões sobre tudo isto. Estou convicto que toda esta operação vai ter consequências profundas.
É um acidente e, como tal, uma coisa fortuita, imprevisível. É até um acidente de dimensões relativamente reduzidas quando comparado com episódios recentes como New Orleans ou o Haiti. É um acidente de dimensão reduzida quando comparado com o terramoto que ocorreu no próprio Chile!
Mas, se, por um lado, perante essas tragédias, não nos transformámos em cidadãos de qualquer destes lugares, neste caso de facto tornámo-nos "todos chilenos", como diz o RM no último post, e "somos todos mineiros" como me disse o FL. Porquê?
Fica demonstrado de forma inequívoca que a opção pelo primado da dimensão humana não tem discussão, nem escala padrão, e que o engenho, a solidariedade, a capacidade de sacrifício postos ao serviço dos outros não são "commodities", que possam ser sujeitas às oscilações do mercado de valores ou à especulação bolsista. O clima em que hoje se vive faz crer que tudo se resume aos "mercados". No Chile escreve-se neste momento o texto que demonstra justamente o contrário.
Parece-me também difícil justificar no futuro a aniquilação deliberada de seres humanos e a leviandade dos "danos colaterais" quando se vê o mundo ficar às avessas e comover-se até às lágrimas, depois de se ter sentido encurralado como e com estes 33 mineiros. No Chile apagaram-se os pretextos para as divisões artificiais. 33 ou 33 milhões, todos os encurralados querem libertar-se.
Se os meios justificassem os fins, estes 33 mineiros estariam a esta hora certamente mortos. Esta operação não peca por falta de meios e não houve estudos custo-benefício que impedissem o seu emprego. Fica claro de uma vez por todas a falsidade deste princípio e o crime que é aplicá-lo torcendo pela força a lógica das coisas. No Chile a realidade é maior que o mais "real" reality show e demonstra que quem está convicto do fim, não olha a meios.

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