2011/01/20

O dominó tunisino

A revolta que, por estes dias, grassa na Tunísia, tornou-se uma porta de esperança. Não só para a oprimida população tunisina, mas também para as populações árabes e magrebinas dos países vizinhos. Ao contrário das manifestações do ano passado na Argélia, onde jovens marginalizados pelo desemprego e pela miséria vieram para as ruas protestar contra os brutais aumentos de bens essenciais, a revolta tunisina radica num protesto social das classes médias, fartas de uma oligarquia que não trouxe democracia, nem desenvolvimento económico. É por isso que, depois da fuga do ditador Ben Ali para a Arábia Saudita, o governo interino (temporariamente chefiado por Mohamed Ghannouchi) não conseguiu acalmar a "rua" e os manifestantes que, diariamente, continuam a exigir a demissão de todos os governantes sem excepção. Argumentam estes que os ministros em função são cumplices da ditadura deposta. Aparentemente, conseguiram ontem mais uma vitória, pois quatro dos ministros, ainda em funções, já se demitiram. Resta saber se a "limpeza" iniciada com a fuga do ditador, continuará a este ritmo ou se o governo interino, com a ajuda do exército, tentará parar a contestação. Até agora e com o desmantelamento da polícia política, que era a maior força de repressão, o exército parece ter escolhido o "lado do povo" (as imagens que as televisões internacionais mostram, não mentem). É esta força das imagens e das "redes sociais" (mais uma vez foram as mensagens na NET que despoletaram a revolta) que parecem ter ateado o rastilho nos países límitrofes: Do Yémen ao Egipto, da Líbia à Mauritânia, da Argélia a Marrocos, sucedem-se os protestos e as "imolações", a exemplo de Mohamed Bouazizi, o herói tunisino cujo sacrifício pessoal detonou a revolta. Nas palavras de um anónimo nas ruas de Tunis: "ontem éramos os inquilinos, hoje somos os proprietários". Esta é a diferença. A Tunísia vive hoje o seu "25 de Abril". Esperemos que por muitos e bons anos.

3 comentários:

moz disse...

Espero que não seja um "25 de Abril" que em 30 anos se transforme nesta coisa pantanosa com que nos governamos hoje...

Carlos A. Augusto disse...

Diria que esta queda para o pântano é um fenómeno tipicamente português. É como a sardinha assada, suja as mãos, deixa cheiro por toda a casa, mas sabe bem. O pior é limpar depois aquilo tudo...

Rui Mota disse...

A "revolta" tunisina terá tanto ou mais hipóteses de vencer, quanto mais alastrar aos países vizinhos. Este é o período mais importante, quando o poder está na "rua" e existe um vácuo político. Ora, como sabemos, a política tem um horror ao vazio e algumas forças organizadas hão-de surgir. Lembremos que a Tunisia, apesar de ter sido uma ditadura, é um país laico e era governado por uma oligarquia, organizada em redor do partido único e da família do presidente deposto. Já seria bom que os islamitas não ganhassem terreno e pudesse haver eleições livres. Se este exemplo "vingar", os regimes musculados do Magreb podem seguir o exemplo. Tudo está em aberto...