2011/09/07

A alegoria do pão

Enquanto o dr. Passos Coelho nos revela finalmente a sua faceta autoritária (o lobo com pele de escuteiro...), coadjuvado pelo dr. Portas que avisa, sibilino, que a contestação é má para os contestatários, o dr. Cavaco, fino que nem um alho, alerta para o perigo do excesso de futebolistas estrangeiros nos campeonatos nacionais.
Entretanto, o preço do pão (produto em que nem o dr. Salazar se atreveu a tocar) vai subir, por causa, dizem, de um pretenso aumento da matéria prima. O aumento do pão vai previsivelmente contribuir para a diminuição do consumo, que já está, de resto, em queda de há algum tempo a esta parte. Os industriais do sector temem esta possível quebra de vendas, mas, dizem, não têm alternativa. Ou aumentam o produto ou o sector não se aguenta. Se o aumento for para a frente o sector pode manter-se à tona de água, mas, se o fizerem, diminuem as vendas e o sector... afunda-se.
Esta é a terrível contradição em que se encontra a economia portuguesa. Para a resolução da qual, é preciso dizer-se, o governo demonstra uma arreliadora e exasperante falta de qualidades.
O português, exaurido pela sanguessuga fiscal, vai observando a alegoria do pão que se estende desde há muito a outros sectores da economia nacional, que parecem ir definhando, sucessivamente com ele, sem remissão, até ao estertor final.
É este retrato de um país improvável. E é neste cálculo de improbabilidades que cada um lança mão dos recursos que melhor domina: Portas e Coelho constroem trincheiras e limpam espingardas, enquanto Cavaco lança o seu trompe l'oeil futebolístico. Estarão eles mesmo, mesmo cientes da dimensão do sarilho que estão a criar?
Infelizmente, com as novas medidas do ministro da saúde sobre doações e transplantes de órgãos este governo e este presidente não vão poder receber o órgão de que tanto precisavam: uma nova cabeça.

1 comentário:

Rui Mota disse...

Também estou de acordo que há futebolistas estrangeiros a mais...podiam trocar por presidentes estrangeiros, quem sabe?