Cavaco - o Sr. Silva - deu mais uma entrevista à televisão. Deu, é como quem diz; pediu uma entrevista à TVI, pois, nestas coisas, um pedido do presidente é uma ordem.
Como é habitual, seguir-se-á o ritual das análises e comentários dos politólogos de serviço que, de resto, ontem mesmo iniciaram a interpretação das palavras explicitas e implicitas do entrevistado.
E o que disse Cavaco de importante? Pouco, como é habitual.
Uma crítica explícita à Sra. Merkel e à sua visão unilateral da Europa comunitária, uma crítica explícita às altas taxas de juro praticadas pelo BCE e o desejo implícito que o mesmo banco Europeu pudesse comprar as dívidas públicas de um país, de forma a evitar falências anunciadas como a Itália ou a Espanha.
De fora, como sempre, ficou a crítica aos desvarios da Jardim (Cavaco tem medo do líder madeirense), a crítica às dívidas acumuladas durante os governos antecendentes (do PS ao PSD), o "buraco" do BPN que todos temos de pagar (e que foi provocado pelos seus amigos mais chegados) ou uma visão internacional dos problemas que, de resto, duvidamos que tenha...
Tão pouco falou do acelerado empobrecimento da população portuguesa, que vai agravar-se em 2012 e, quando questionado sobre se não devia haver uma maior comparticipação dos mais ricos em tempo de crise (nomeadamente da banca), refugiou-se no legalismo hipócrita do modelo de contribuição fiscal aprovado pela AR em 1989, quando o PSD tinha a maioria...Ou seja, se a banca paga hoje menos contribuições do que um assalariado português médio, isso deve-se aos legisladores (leia-se deputados) que votaram este modelo no tempo em que o seu partido governava. Esclarecedor, o argumento de Cavaco Silva.
Mas, temos de ser coerentes: se o actual modelo de contribuição data de 1989, quando o partido do Sr. Silva tinha uma maioria absoluta na AR, este modelo não foi alterado quando o PS de Sócrates teve a maioria parlamentar entre 2005 e 2009. Logo, o modelo é aquele que os partidos do arco de governação (leia-se bloco central de interesses) escolheram para Portugal. Nisso, Cavaco Silva não é diferente dos presidentes que o antecederam.
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