2011/10/03

Má consciência

Há vinte e quatro horas que os noticiários e principais orgãos de comunicação social noticiam que a PJ e a PSP estão de prevenção com vista a detectar e impedir possíveis contestações sociais violentas (!?) no seguimento das últimas medidas anunciadas pelo governo...
Não se percebe tanta preocupação. Ainda hoje um comentador televisivo veio, pela enésima vez, reafirmar que somos um povo de "brandos costumes" não sendo de esperar reacções violentas. Nós somos um "povo de comer e calar", nas suas próprias palavras. "Não somos iguais aos gregos", dizia o homem com ar muito convencido.
Não sei onde é que estes iluminados foram buscar tais certezas.
Não está provado que os portugueses são "mansos" (leia-se a nossa história), nem ninguém pode avaliar o que os gregos estão a passar. Eu, se fosse grego, reagia do mesmo modo. É intolerável exigir a uma população inteira, que foi alvo da gânancia e promessas da sua classe dirigente, que pague por uma crise da qual não é responsável. Mesmo admitindo que os "gregos" consumiam mais do que produziam (de resto, o mesmo se passa em relação aos portugueses), é impossível a qualquer povo resistir a estas medidas completamente desproporcionadas que não têm em conta as necessidades básicas da população e arrastam para a miséria absoluta milhões de cidadãos indefesos.
Só me ocorrem duas explicações para tal frenesim controlador da polícia: ou as forças de ordem querem, com este aviso, amedrontar os potenciais contestatários; ou estão com medo de que algo incontrolável possa acontecer. Como na Grécia, na Grã-Bretanha e (pasmem só) nos EUA onde os "indignados" ocupam há duas semanas a Wall Street.
De uma coisa, estou certo: os governantes têm a (má)consciência do que estão a fazer e sabem que estas medidas não vão resolver o problema estrutural português. Por isso, refugiam-se em ameaças veladas. As ameaças de quem se sente fraco.

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

Há, a propósito desta má consciência, duas questões importantes. Em primeiro lugar, os portugueses são frequentemente acusados de terem pouca participação na vida democrática. Quando participam (a manifestação é uma forma democrática de participação e até agora não houve nenhuma manifestação fora das normas vigentes; o contrário já não é verdadeiro...) esse seu acto tem de ser enaltecido, não criticado. Podem invocar a retórica do "sindicalismo ultrapassado", do "abuso dos precários ao quererem deixar esse estatuto, ou a falsa "indignação" dos indignados, mas o que está em causa aqui é participação na coisa pública.
Toda a participação não será demais.
Por outro lado, democracia não é propaganda. Quem tem os meios de comunicação à sua disposição são os mesmos que nos trouxeram a esta situação. Diabolizar a participação cívica é anti-democrático!!
Estão enganados: ninguém com consciência democrática tem medo de ajudar a construir e a participar na democracia, nem fica condicionado pela propaganda destes trastes e pela diabolização das estruturas organizadas do povo.
Nem de Homens tenho medo quanto mais de imbecis, traidores e velhacos!!!
Estão redondamente enganados.