2012/05/05

De facto, sem gravata!


Cavaco não viu as imagens da tumultuosa "promoção" do Pingo Doce. Os seus conselheiros não o alertaram, ou ele não ouviu os alertas. Soares dos Santos disse que não sabia da campanha. Como seria estranho que uma pessoa que ocupa o seu lugar não soubesse o que se passa numa sua empresa, terá vindo depois dizer que a imprensa deturpou o que disse. Afinal saberia. A campanha terá então tido o aval do patrão. Ou não, ainda não se percebeu bem. A ministra da fé acredita que agora é preciso legislar. O deputado Luís Menezes, à falta de melhor argumento, perguntava, dirigindo-se às bancadas da oposição: "Os senhores querem meter-se na decisão livre de cada português escolher a quem compra e quando compra?" E o Álvaro, certeiro e lapidar, vai mesmo mais longe, "arrasando" irrefutavelmente, qualquer argumento que se possa invocar para criticar este espectáculo miserável que o Pingo Doce nos proporcionou: noutros países é normal haver promoções deste tipo.
Contudo, a ASAE, um organismo tutelado pelo próprio Álvaro, tinha iniciado investigações no próprio dia 1, encontrando motivos para duvidar desta "liberdade da decisão" e da "normalidade" de promoções como esta. A ASAE disse mesmo "ter encontrado indícios do incumprimento de algumas disposições do decreto-lei que rege a aplicação de preços e as condições de venda dos produtos a retalho" e enviou o processo do Pingo Doce para a Autoridade da Concorrência. Mas, esta é a mesma "Autoridade" na qual os portugueses depositarão uma confiança cega, que reiteradamente determina que o que se passa com os combustíveis, por exemplo, não indicia qualquer prática de cartelização...
Enquanto isto, Cavaco Silva, sempre igual a si próprio, volta a atacar. Em Cascais, numa reunião de um autodenominado "Conselho para a Globalização" (olhando globalmente para este painel percebe-se o alcance global do conselho que deste Conselho sairá,) apela à mobilização dos "portugueses" para que se projecte uma imagem diferente do país lá fora. De pronto, ele e os seus companheiros de jornada dão o exemplo. Tiram a gravata, et voilá!: num ápice, temos a imagem, que os factos citados acima documentam, de um país dirigido por um bando de fantoches e incompetentes de gravata, transformada numa outra, que a foto documenta, de um país governado por um bando de fantoches e incompetentes... sem gravata.

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