2012/06/25

Princípio do fim?


Este filme começa aqui. E nós, que estamos habituados a esta lógica cronológica,  deduzimos que é o princípio da acção.  Pergunto, contudo: e se este não fosse o fim do princípio, mas o princípio do fim? E se alguém meteu propositadamente a bobine ao contrário?
Vale a pena ler este artigo (já sinalizado no Twitter do Face, aí do vosso lado direito). "O “sistema da dívida” é o alimento do mundo financeirizado". Repito para o caso de não terem ouvido bem: "O “sistema da dívida” é o alimento do mundo financeirizado".
Mas, a dívida faz aumentar a dívida, constatamos nós, a menos que a ataquemos na origem. A esta realidade responde o "mundo financeirizado": não, nós gostamos que nos devam. Devam-nos, quanto mais melhor, devam-nos muito e vendam tudo, vendam-se!, o que importa é que nos consigam pagar! Não têm dinheiro? Pagam com mais dívida!
Por vezes os porta vozes deste "mundo" não o dizem assim, desta forma cruel e assassina. Usam meias palavras, insinuam, dão um carácter mais ou menos subtil, mais ou menos sofisticado ao discurso, mas o que resulta, no final, é apenas isto: "desviar recursos que deveriam se destinar a gastos sociais - com saúde, educação, saneamento básico, assistência social, moradia digna, entre outros – para o pagamento de encargos financeiros de uma “dívida pública” cuja contrapartida não se conhece," como diz o artigo. A dívida faz aumentar a austeridade, que faz aumentar a dívida, que faz aumentar a austeridade.
Aumento da austeridade é uma medida drástica, dizem os piedosos do regime; provisória, avisam, mas necessária. É preciso honrar compromissos, cumprir metas. Só assim se pode voltar a ganhar a confiança... do "mundo finaceirizado". O mesmo que vive disto. Como se alguém fosse acreditar que com o simples cumprimento dos compromissos o "mundo financeirizado" ficasse saciado.
Por que razão não se fala então em impor uma outra restrição drástica: cercear drasticamente a actividade deste "mundo financeirizado", o mesmo que vive disto, o mesmo que nos colocou nesta situação, para começar, e que não hesitará em tentar repetir a proeza logo que os nossos compromissos estejam satisfeitos? Passar o filme a partir do princípio, enfim?

1 comentário:

Rui Mota disse...

Portugal não irá cumprir os seus compromissos, pela simples razão que nunca poderá pagar esta dívida. Este é um dado objectivo que todos os analistas e economistas de renome vêm dizendo e escrevendo de há um ano a esta parte. Quando terminar o período de "intervenção" (após o qual é suposto termos baixado o "défice" para menos de 3% e a dívida pública para menos de 90% do PIB) vamos constatar que nenhum destes objectivos foi atingido. Essa constatação obrigará Portugal a pedir um segundo resgate, ou seja um segundo empréstimo e respectivos juros, que terão de ser pagos aos credores. Há projecções feitas por economistas que dizem que a dívida aumentará em vez de dominuir. Em 2013, o mais provável é devermos mais dinheiro do que devemos agora. Um circulo vicioso que nos arrastará para um ciclo de dependência externa, sem fim à vista. Sim, este filme começa pelo fim.