2012/07/26

Começou a "época" dos fogos

Portugal, já sabemos, é um país de tradições. Porque a tradição ainda é o que era, pelo menos nalgumas áreas mais "tradicionais", todos os anos por esta época somos confrontados com o flagelo dos fogos. Há-os para todos os gostos: os de combustão "espontânea", os ateados por pirómanos, os de origem desconhecida, os provocados pelos madeireiros, pelas fábricas de celulose, pelos especuladores imobiliários, pelos pastores, pelas "queimadas", pela seca, pelo calor, pelo vento e, calculem só, por todas estas coisas em simultâneo! Faltam sempre meios: da protecção civil, dos bombeiros, de meios aéreos, de dinheiro, de coordenação e até de prevenção... Todos os anos - todos! - ardem dezenas de milhares de hectares de floresta pública e privada, assim como bens de todo o tipo, para além de vidas, muitas e preciosas, que morrem estupidamente sem sabermos bem porquê. Mais: na última década terão ardido mais de 1 milhão de hectares (1/3 do território nacional!), com picos de 340.000 hectares e 220.000 hectares em 2003 e 2005, respectivamente. Só este ano, já arderam 35.000 hectares. Pior: sabendo que a floresta (a par dos téxteis e calçado) é uma das principais riquezas nacionais (representando 3% do PIB português e 11% das exportações) não se percebe este desleixo verdadeiramente criminoso do estado português. Mas, a história não acaba aqui. De acordo com os dados da PorData, revelados por António Barreto num recente programa televisivo, metade do país (a zona a Norte do Tejo) não está sequer cadastrada. Ou seja, não se sabe ao certo qual a área e a quem pertencem os terrenos privados existentes! Dessa forma, torna-se impossível exigir medidas tão elementares como a limpeza das matas ou sancionar quem não cumpra estes pressupostos. Como o processo de cadastro exige tempo e dinheiro, os sucessivos governos vão adiando esta decisão fundamental para o nosso território, tornando-se cúmplices deste laxismo nacional que nos devia envergonhar pela ineficácia demonstrada. Estamos em Julho, a meio da "época de fogos". Muitos mais irão seguir-se, daqui até Setembro. No rescaldo, será feita mais uma avaliação e serão prometidas mais medidas, por ministros e secretários de estado de semblante grave e sisudo. Depois, esquece-se tudo, até ao próximo Verão, quando os "inevitáveis" incêndios voltarem a ser notícia. Tenho vergonha destes nossos governantes. De todos, sem excepção.

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

Havia o "1º mundo", o 2º e o 3º. Nós estamos num mundo e numa escala à parte...