Desde que ontem, no decorrer das jornadas parlamentares do PSD, o primeiro-ministro lançou o repto ao PS para Refundar o programa do Memorando em curso, que os analistas de todos os quadrantes se desdobram em interpretações sobre o significado da coisa.
Mas, afinal, o que quer “refundar” Passos?
Admitindo que, como aprendemos, “refundir” significa “tornar a fundir; transvasar; transformar profundamente; mudar a forma a; refazer, reunir-se, derreter-se; sumir-se; transformar-se, derramar de novo (Diccionário Porto Editora, 6º edição), temos de concordar que as interpretações abundam.
Avanço três:
1) Passos Coelho já percebeu que se estampou e que não há saída para o buraco onde estamos metidos. A continuação deste programa de ajustamento vai conduzir o pais para um abismo sem fundo e, neste quadro, o primeiro-ministro lança mão da última possibilidade de ter aliados nesta estratégia. Com o PS, pode dividir as culpas e manter uma parte da população mais calma.
2) Passos Coelho, aconselhado por outrem (Ângelo Correia, o PR, Gaspar?) lança mão de um aliado que lhe pode dar a almejada maioria parlamentar, única forma de mudar a Constituição, o último obstáculo à implementação da receita do FMI.
3) Passos Coelho, prevendo a queda do governo - seja por demissão, seja por iniciativa presidencial - tenta uma saída airosa para o programa de ajustamento, ainda que ele já não seja parte da solução.
Seja qual for o cenário, e outros haverá que não passam necessariamente pela patética figura do primeiro-ministro, uma coisa parece certa: ninguém acredita que este programa de ajustamento vai resultar pelo que continuar a aplicá-lo só por insanidade ou má-fé. Já vimos que a insanidade é uma característica de alguns membros deste governo. Mas, para mim, há um perigo maior: as pessoas que estão a aplicar este programa não são todas necessariamente doentes ou incompetentes. Não, eles (Gaspar, Borges, Macedo) são altos quadros qualificados em instituições internacionais, onde se ensina esta cartilha. Uma cartilha que exige a “refundação” da sociedade, única forma de começar de novo, segundo um novo modelo: um modelo onde não exista um estado social e onde os trabalhadores sejam de tal forma subservientes que qualquer ajustamento possa ser aplicado sem resistência da maior parte da população. As minorias contestatárias serão isoladas e castigadas de acordo com a nova democracia musculada.
É esta a “refundação” que nos é proposta. Também lhe podemos chamar outra coisa: “refodação”, de refodido, um termo que se aplica a quem já foi fodido uma vez.
3 comentários:
... e, quando recebe, mal pago!
A tese de que esta pandilha está a fazer isto para ver se dá de frosques mais depressa, depois de ter deixado tudo irremediavelmente refundido, não deve deixar de merecer atenção. Também acredito que estes gajos são capazes de tudo, até fugirem, depois de lixarem a vida da malta toda...
Sim, eles já provaram serem capazes de tudo. Vem aí o Estado Novo, com novas roupagens e mais repressão, única forma de aplicar estas medidas draconianas. Resta saber se o pessoal quebra ou resiste...
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