2012/10/12

O que está em causa


Uns chamam-lhe marretada, bomba, bomba relógio, bomba atómica, massacre, saque, roubo, assalto, à mão armada ou não, conforme as versões, tsunami, terramoto, carga policial, terrorismo de impostos! Outros (alguns até saídos dos meandros do governo e dos partidos que o compõem), concordando, dizem que é tudo isto, sim senhor, mas por culpa dos socialistas. É por culpa dos socialistas que a coligação PSD/CDS (que disse que nunca culparia governos anteriores) nos vem agora cortar nos serviços para os quais descontámos já com os nossos impostos e deduções —apoios sociais, saúde, educação, justiça, cultura, etc— e é por culpa deles que, se queremos usufruir do que pagámos, teremos de pagar agora mais.
Dizem que é pelo facto de os socialistas terem gastado à tripa forra que agora "temos" de pagar mais e mais e ter menos e menos.
Será, mas outros explicam entretanto que, ao fazer tudo isto, a situação vai piorar, ou seja, vamos ficar sem o pouco que temos, nos custou já tão caro, pagar mais, e, simultanenamente, vamos perder mais empregos, vamos ficar a ver a recessão aumentar, vamos ficar a ver o que na origem era um problema com uma qualquer solução, transformar-se num problema irremediavelmente insolucionável. Vamos também ficar a ver  que, depois disto, depois de ficarem sem direito ao Estado para o qual contribuiram, os poucos que restarem deste processo vão ter de pagar ainda mais, não para resolver os problemas, mas para não terem solução.
Ouvimos falar do OE2013 (é disso que tenho estado a tratar) e, dizem outros, finalmente, que não há onde ir buscar mais dinheiro. Não há forma de pagar a dívida indo buscar apenas dinheiro à despesa. As instituições estrangeiras avisam que assim é: por aí a coisa não vai lá. Segundo podemos ler, de facto, no OE prevê-se que na renegociação das PPP, por exemplo, se irá recolher 200 milhões de euros... Pouco mais do que um simples jackpot do Euromilhões em dia mais gordo. Assim, de facto, a coisa não vai lá.
O primeiro ministro fica enxofrado quando lhe chamam ladrão. Terá razão, coitado. Acho, contudo, que, para evitar mal entendidos, estava na hora de ele explicar —muito devagar e sem perder a compostura que o cargo lhe exige— todo este absurdo, antes que o povo o conduza ao cadafalso.
Porque é isso que está mesmo em causa. Não vá ele ter dúvidas...

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