A política, diz-se, é xadrez. No caso da coligação do governo, descobriu-se um novo tipo de desfecho: não há xeque-mate, nem sequer empate —que implicaria uma situação neutra, sem consequências—, há xeque-mate duplo. As brancas ganham às pretas e vice versa.
PSD e CDS sairão, ambos, desta partida a perder e feridos de morte.
Dizem alguns que à decisão do CDS de votar a favor do orçamento se seguirá uma saída dos ministros daquele partido, a consequente remodelação, talvez mesmo com Gaspar, essa figura cheia de carisma, a timoneiro, e o PSD deixado assim a afogar-se sozinho no oceano. É bem possível. É bem possível que seja este o testamento deixado por esse mago da estratégia chamado Paulo Portas, esse enfant terrible da política portuguesa, vencedor do circuito das feiras e campeão do beijo-na-velha. Depois de dias de silêncio em que o País andou totalmente suspenso e angustiado, sem saber o que iria fazer o CDS, o partido promete um espetáculo de hara kiri político, live, perante os portugueses...
Porque o que é mais provável, no caso de tudo isto vir a acontecer, é que o CDS se eclipse neste movimento de génio (nos Açores já tiveram o aperitivo...) que tanto custou a parir. O CDS quebrou o longo silêncio para entrar na inexorável via da extinção que conduz ao silêncio da morte.
Serão excelentes notícias se isso acontecer. É possível, vamos ter esperança...
No meio disto, e se de facto o CDS deixar a coligação, iremos certamente assistir ao naufrágio solitário do navio almirante, PSD. Cumprir-se-á o desígnio de Portas e o big brother da coligação vai ao fundo com um tiro fatal. É inevitável que, perdendo o táxi, e abominando, como abomina, os transportes públicos, o PSD vá ter de fazer a longa e cansativa jornada que tem pela frente a pé. Pode ser também que, nesse esforço, gaste definitivamente as solas e se perca de vez por essas encruzilhadas.
Já agora que falo de tiros (não me refiro ao desconforto dos militares, tão eloquentemente expresso ontem...), aguardemos —sem nenhuma expectativa especial, devo confessar— o que vão fazer os partidos do arco da não-governação. Vamos ver se vão continuar a dar tiros no pé. E aguardo também —com uma expectativa ainda menor— o que vai fazer o outro partido do arco da desgovernação, o PS. Também dentro dele há quem se coloque na posição de mera testemunha acidental. Esses têm hoje uma oportunidade de ouro para dar o tiro decisivo no porta-aviões, mas a tarefa parece impossível de realizar apenas com pólvora seca, como tem sido norma até agora.
A crise, como a luta, continua.
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